Sábado, 11 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de outubro de 2025
A insegurança alimentar grave, realidade de famílias que convivem diariamente com a ameaça da fome, ainda alcançava mais de 6,4 milhões de brasileiros em 2024. O número absoluto é o menor já registrado em pesquisas do IBGE. A série histórica do instituto começa em 2004.
Na edição anterior da pesquisa, em 2023, a fome atingia 8,6 milhões de pessoas no Brasil, chegando a 4,1% dos lares. Ou seja, de um ano para outro, 2,2 milhões de brasileiros deixaram essa situação.
O percentual de lares nessas condições em 2024 ficou em 3,2%, equivalente ao de 2013. Somando os lares em que a restrição alimentar é mais grave com aqueles em que a situação é moderada, o número chegou a 7,7% no ano passado, também o menor desde 2013. Na pesquisa anterior, de 2023, esse percentual chegava a 9,4%.
É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, cujos dados sobre segurança alimentar no país foram divulgados nesta sexta-feira. A primeira pesquisa do instituto a observar esses indicadores é de 2004.
A pesquisa indica o percentual de lares sob qualquer grau de insegurança alimentar, desde os casos leves, até os moderados e os graves. Com isso, abrange desde as famílias que têm preocupações ou incertezas quanto acesso aos alimentos no futuro, até aquelas que podem ter passado por episódios de fome — com membros do domicílio ficando um dia inteiro sem comer ou com a restrição de alimentos atingindo até as crianças — no período observado pela pesquisa.
Considerando os lares com qualquer um dos três graus de insegurança alimentar, o percentual caiu para 24,2% em 2024, após alcançar 27,6% em 2023 e 36,7% em 2017 e 2018, maior patamar já registrado. No entanto, o número do ano passado ainda é menor que o de 2013 (22,6%).
A pesquisa foi elaborada com base na metodologia adotada na Pnad de 2004, 2009 e 2013 e na Pesquisa de Orçamentos Familiares dos anos de 2017-2018. O levantamento classifica as unidades domiciliares segundo os graus atribuídos pela Escala de Insegurança Alimentar brasileira (Ebia).
Os dados mostram que a insegurança alimentar no Brasil é diretamente ligada à renda. Entre os lares que passavam por insegurança alimentar grave, em 71,9% os responsáveis ganhavam até um salário mínimo. Já considerando aqueles que passavam por qualquer tipo de insegurança alimentar, dois em cada três (66,1%) domicílios tinham renda de até um salário per capita.
“Quanto menor o rendimento domiciliar per capita, as pessoas estão mais sujeitas a estarem em algum tipo de privação alimentar”, explica Maria Lucia Vieira, gerente da pesquisa.
E é por isso que, de acordo com a pesquisadora, o acesso aos alimentos também está relacionado aos índices de desemprego.
“Em momentos que tem uma redução dos empregos, não tem jeito de não reduzir a alimentação. Tem que reduzir os custos ou para comer ou de outras contas para não reduzir a alimentação. E a gente veio observando nesses últimos dois anos, comparando 2023 com 2024, que, de fato, a taxa de desocupação também vem reduzindo, melhorando o rendimento das pessoas. Isso tem um reflexo direto no que as pessoas conseguem adquirir de alimentos”, disse.
Além do aumento de renda via ocupação, a gerente da pesquisa também menciona os programas sociais, tanto os de transferência de renda, quanto os diretamente relacionados à alimentação, como os de merenda escolar, que são fatores importantes para reduzir a insegurança alimentar nas famílias.