Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Home Variedades “Fugimos só com a roupa do corpo”, lembra sobrevivente do nazismo radicada no Brasil

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A poucos meses de completar 90 anos, a alemã naturalizada brasileira Margot Bina Rotstein lembra-se vivamente do dia em que sua vida e a de seus pais mudou para sempre.

Era 9 de novembro de 1938 e Margot tinha apenas seis anos. Naquele dia, nazistas lançaram um violento ataque coordenado contra lojas, edifícios e sinagogas judaicas — a chamada ‘Noite dos Cristais’, como ficou conhecido o episódio devido aos pedaços de vidro partidos espalhados pelas ruas.

“Fomos dormir e, de repente, escutamos estrondos horríveis, mas não sabíamos o que estava acontecendo. No dia seguinte, nos demos conta da tragédia. Eles (os nazistas) queriam acabar com os judeus definitivamente”, conta ela.

Margot, que vive no Brasil desde a adolescência, fala pausadamente e não tem sotaque. Com uma memória impecável, ela é testemunha ocular dos horrores que culminariam no Holocausto — como ficou conhecido o assassinato em massa de milhões de judeus, bem como homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová e outras minorias, durante a 2ª Guerra Mundial, a partir de um programa de extermínio sistemático patrocinado pelo partido nazista de Adolf Hitler.

Ela e seus pais, todos judeus, conseguiram fugir da Alemanha rumo à América do Sul pouco antes da eclosão do conflito.

Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Grande parte de seus parentes próximos, incluindo os oito irmãos de seu pai, foi enviada a campos de concentração e assassinada.

Infância

Apesar de ter deixado a Alemanha ainda muito pequena, Margot consegue se lembrar de muitos episódios marcantes. Nascida em uma família de classe média, seu pai, polonês, era comerciante e sua mãe, alemã, dona de casa.

Ela vivia uma infância feliz, conta, mas tudo mudou quando os nazistas chegaram ao poder. A perseguição contra judeus e outras minorias ganhou força e seus direitos passaram a ser gradativamente suprimidos.

Depois da Noite dos Cristais, os nazistas também começaram a perseguir e deter homens judeus.

“Uma amiga mais velha da minha mãe, cujo marido havia sido levado pelos nazistas, lhe avisou que meu pai tinha que fugir”, diz.

“Eles bateram então na porta da minha casa. Minha mãe mentiu, dizendo que não sabia do paradeiro do meu pai. No dia seguinte, eles (nazistas) voltaram. Revistaram tudo e deixaram uma bagunça tremenda. Meu pai acabou se escondendo na casa da minha tia”, acrescenta.

Cabia à pequena Margot, portanto, ser o elo de comunicação entre seus pais.

“Se meu pai fosse pego, ele seria preso. Eu andava por aquelas ruas tenebrosas com todos os vidros quebrados, fumaça… terrível. Minha mãe sempre me dizia para eu não falar com ninguém. Realmente, não falava”, diz.

Com a vida na Alemanha se tornando insustentável para os Rotstein, o pai de Margot decidiu que era hora de deixar o país. E conseguiu vistos para o Paraguai, Bolívia e Brasil. “Naquela época, ninguém conhecia a América do Sul”, lembra.

Fuga

Mas a jornada rumo à terra desconhecida seria repleta de desafios. “Fomos à estação para pegar o trem à França e os nazistas nos tiraram todos os nossos pertences. Até uma bonequinha minha. Fugimos só com a roupa do corpo”, conta.

“Na fronteira, agentes pararam o trem e obrigaram todos os homens a desembarcar. As mulheres com as crianças permaneceram. O trem já estava a ponto de partir e não havia sinal do meu pai. Foi quando os soldados franceses jogaram alguns de volta dentro do trem, incluindo meu pai. Ele se salvou. Mas muitas mulheres foram deixadas sozinhas com seus filhos”, acrescenta.

Em Marselha, na França, a família embarcou em um navio “de terceira categoria”, conta Margot, mas não sabia aonde iria.

“Foi uma viagem longa, de mais ou menos três meses. Homens e mulheres dormiam separados, em beliches”, diz.

“Meu pai tinha um visto para o Brasil, para o Paraguai e para a Bolívia. Mas tanto o Brasil, de Getúlio Vargas, quanto o Paraguai impediram a entrada de judeus. O único país a nos deixar entrar foi a Bolívia e sou grata a eles até hoje”, acrescenta.

Na Bolívia, os Rotstein ficaram até 1947. Foi quando decidiram mudar-se novamente, dessa vez para o Brasil. “Mas era outra época e não tivemos problemas para emigrar”.

No Brasil, Margot casou-se com Ignacio, já falecido, com quem teve três filhos. Hoje avó de quatro netos, ela dedica-se a preservar a memória do Holocausto.

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