Quinta-feira, 05 de Dezembro de 2024

Home em foco “Gerentão” de Lula, vice-presidente eleito lida com com falta de confiança de alas do PT

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O ex-governador e vice eleito Geraldo Alckmin (PSB) foi alçado a protagonista da transição por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, na visão de pessoas próximas e integrantes do grupo, deverá assumir a função de “gerentão” do terceiro mandato do petista.

Desde a instalação do gabinete, do qual é o coordenador-geral, Alckmin tem sido elogiado por colegas pelo seu perfil executivo, reconhecido inclusive dentro do núcleo duro do PT. Por outro lado, setores do partido veem com desconfiança o destaque dado ao ex-tucano, temendo a possibilidade de o vice se cacifar como sucessor de Lula em 2026, o que poderia inviabilizar nomes da própria sigla.

Petistas também acreditam que, mais cedo ou mais tarde, haverá conflitos por visões antagônicas que o político de centro possui em relação à legenda em áreas como economia, segurança pública e agricultura.

Não foi por acaso que, em sua primeira visita a Brasília, há dez dias, Lula fez questão de dizer que Alckmin “não disputa vaga de ministro”. O recado era uma tentativa de acalmar integrantes do PT. Dentro do partido, a decisão de dar a ele o comando da transição gerou antipatia de alas mais à esquerda, especialmente pelo trauma da legenda com o vice de Dilma Rousseff, o ex-presidente Michel Temer (MDB), considerado por ela como um dos articuladores do seu impeachment, em 2016.

Diferentemente de Temer, indicado ao cargo como uma escolha do seu partido e relegado a “vice decorativo”, Alckmin foi convidado para comandar a transição pelo próprio Lula. O vice comentou com aliados ter considerado o gesto uma “demonstração de extrema confiança” do presidente eleito, a quem teria prometido retribuir com lealdade e trabalho.

Auxiliares que o acompanham desde a época em que era governador de São Paulo afirmam que ele está mergulhado no projeto e animado com a nova vida. Dedica pelo menos 16 horas por dia à transição e combina com o petista cada passo.

Interlocução

Lula e Alckmin conversam diariamente por telefone, mesmo na última semana, quando o presidente eleito viajou ao Egito para participar da Conferência do Clima, a COP 27. Nas ligações, informa o chefe sobre o dia a dia no CCBB e o andamento das negociações da PEC da Transição no Congresso.

Neste processo, contou com a linha direta que mantém com o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ambos são aliados desde 2018, quando Pacheco, candidato ao Senado, subiu no palanque do então presidenciável Alckmin em Minas.

A pessoas próximas, Pacheco afirma que enxerga o vice de Lula como um facilitador do diálogo e alguém que teve papel importante nas discussões da PEC. Foi ao senador que Alckmin recorreu quando enfrentou o primeiro ruído com a equipe de transição. Após o ex-ministro Guido Mantega enviar uma carta ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pedindo o adiamento da eleição ao comando do órgão, numa tentativa de inviabilizar a candidatura do economista Ilan Goldfajn, Alckmin ligou para Pacheco, que no mesmo dia manifestou nas redes sociais seu apoio à indicação do brasileiro.

Na leitura de um auxiliar, Alckmin faz o estilo “operário padrão”: pega a tarefa e coloca para funcionar. O modo de trabalho também tem ajudado a manter uma relação azeitada com dois petistas com quem tem dividido decisões estratégias da transição: a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloizio Mercadante, a quem aliados atribuem uma personalidade difícil. O trio é responsável por fazer um pente-fino em todos os quase 300 nomes anunciados até agora para participar da transição.

“Copiloto” ou coringa

No cotidiano da administração do novo governo, a expectativa é que Alckmin assuma um papel que possa ter influência em todos os ministérios, com um perfil executivo do dia a dia do governo, enquanto Lula terá um papel mais institucional, atuando como o chefe de Estado que irá viajar o mundo para reconstruir as relações do Brasil com o mercado internacional, pacificar a relação entre as instituições e focar no combate à fome e à miséria.

Em público, Alckmin se define como o “copiloto” de Lula. Integrantes da transição, no entanto, já o enxergam como um coringa do petista. Embora o presidente eleito tenha indicado não pretender colocá-lo em um ministério, há uma leitura de que caso em alguma das pastas não haja consenso, Alckmin surgirá como opção. Um desses casos poderá ser o Ministério da Defesa, para o qual Lula busca alguém que, ao mesmo tempo, seja alinhado ao governo eleito e tenha uma boa relação com as Forças Armadas.

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