Sábado, 16 de Agosto de 2025

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Bastariam os eventos insólitos da tomada de mesas da Câmara dos Deputados e Senado para que – de vez – se compreendesse a real natureza do bolsonarismo.

Notem que tanto em um caso como no outro, não é que a maioria dos parlamentares envolvidos eram bolsonaristas: eram todos. É um método, um estilo, uma tática de ação e de luta. Uma visão de mundo.

Ao paralisar os trabalhos do Congresso, por 30 horas, a ação indigitada, por assim dizer, “fechou o Congresso”, fechou um dos poderes da República. Se isso não é golpe, então me digam o que seja.

O amotinamento daqueles insensatos, os seus delírios febris, o comportamento bizarro, tudo conspira contra as casas legislativas, contra o princípio sagrado da soberania popular, que ali se expressa e representa. Se o “locus” institucional onde o poder popular se manifesta é impedido de trabalhar, então estamos na ante sala da ditadura.

As figuras melancólicas daqueles atores de fancaria deram um péssimo exemplo de conduta, de menosprezo pelos valores mais altos e caros de um regime democrático. É demasiado, é ofensa à inteligência, vaza todos os limites, pretender elevar a pantomina ao status nobre de uma manifestação em favor da liberdade de expressão e da democracia.

Acusam os adversários de inimigos da pátria, de cultores de sistema totalitários, mas eles mesmos, sem pejo, vergonha e constrangimento, com a convicção dos estúpidos, se utilizam das armas e das táticas já antes vistas e experimentadas nas tomadas de poder pela violência e nas ditaduras, que abalaram o mundo e o mergulharam nas trevas.

Esta a verdade dura: o bolsonarismo não faz a ideia mais remota do que seja uma democracia. Pertencem a uma tribo primitiva, onde todas as mentiras cabem, todas as ações nefastas e ilegais são permitidas para alcançar os seus objetivos, dos quais, aliás, eles também não têm muita clareza.

Atrás da ideia compulsiva de que a esquerda quer dominar o mundo, no lugar disso, eles próprios querem um mundo à sua exclusiva feição, da sua falta de jeito, das suas conceituações primárias, das suas concepções mal ajambradas, e pior de tudo, de suas certezas inarredáveis.

Conservadores não são. Conservadores prezam a ordem, não a arruaça, a baderna. São anarco direitistas, ultra radicais, cegos de paixão extravagante, de ódios mal dissimulados, de incuráveis ressentimentos, de uma dose cavalar de insensatez, incultura e burrice. São adeptos do caos provocado para, em meio à desordem institucional, quem sabe retomar a saga golpista, o único projeto inteligível a que estão atrelados.

Enquanto denunciam as más práticas, as intenções subjacentes, às táticas desleais e as contradições da esquerda, vão eles mesmos incorrendo em comportamentos bizarros, ações funestas, usando a arenga e o arsenal completo dos totalitários.

Nem chegam a notar que se comportam de forma igual ou pior do que os inimigos que dizem combater. Ou se notam, passam ao largo, como se a eles fosse permitido – dadas as suas intenções grandiosas – tudo o que atribuem aos oponentes. A velha máxima levada ao estado da arte pelo marxismo-leninismo: os fins justificam os meios.

(titoguarniere@terra.com.br)

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