Quarta-feira, 30 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de julho de 2025
Governadores de direita que buscam se cacifar eleitoralmente para 2026 como aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vêm adotando medidas e tons distintos às vésperas da entrada em vigor do tarifaço, anunciado pelo governo dos EUA para o dia 1º de agosto.
Parte desses aliados, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), incentivam uma negociação econômica com o governo de Donald Trump, desvinculada de questões como a anistia ao ex-presidente — o que os tornou alvos de críticas de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A atuação de Eduardo nos EUA, por sua vez, passou a ser criticada nos últimos dias por nomes como o governador de Minas, Romeu Zema (Novo).
Em outra toada, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), tem centrado críticas na postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Do quarteto de governadores que são tidos como presidenciáveis da direita, Caiado foi o único a escapar de críticas de Eduardo até agora.
Em um aceno ao empresariado local, o goiano propôs uma linha de crédito para mitigar efeitos das tarifas, iniciativa também adotada por Tarcísio e Ratinho. Para analistas, o fato de o governo Trump ter justificado o tarifaço pela situação de Bolsonaro e a “inviabilidade política de se declarar a favor da medida”, combinados, vêm dificultando uma reação uníssona de governantes que fazem oposição a Lula.
Um dos mais cotados a herdeiro político de Bolsonaro, Tarcísio tem apostado em sensibilizar interlocutores do governo americano sobre os impactos negativos da tarifa. Ele anunciou, na semana passada, um pacote de ajuda a exportadores paulistas afetados. A medida inclui linha de crédito subsidiado de até R$ 200 milhões, além da liberação de R$ 1 bilhão em recursos retidos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Tarcísio se colocou em contraponto a Eduardo ao criticar, no último sábado, atores que buscam “dividir o país” com as tarifas. Ele defendeu ainda que é preciso “agir como adulto para resolver o problema”, caso contrário, “quem vai perder é o Brasil”.
Embora o governador tenha endereçado suas falas ao governo Lula, a mensagem também foi entendida como crítica a Eduardo, que já foi classificado pelo pai como “não tão maduro assim”. Em suas redes, o deputado reagiu afirmando que “é hora dos homens tirarem os adultos da sala”. Ontem, em entrevista ao SBT, Eduardo criticou igualmente a ida de uma comitiva de senadores aos EUA e disse que irá trabalhar “para que eles não encontrem diálogo” com o governo Trump.
Para o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, o tarifaço colocou os governadores de direita em meio a três desafios: condenar a medida do governo Trump, “mas sem desafiá-lo”; reagir “sem ficar ombro a ombro” com o governo Lula; e não se distanciar “em demasia” de Bolsonaro.
“É uma situação que criou dificuldades, o que faz eles eventualmente se aproximarem mais de um ou de outro vértice desse triângulo. O tarifaço pode vir a se tornar um marco de algum tipo de cisma na direita brasileira, com posicionamentos diferenciados que perdurem até a eleição.”
Em linha similar à de Tarcísio, o governador do Paraná, Ratinho Jr., argumentou que é preciso “sentar e conversar com os Estados Unidos”, e alegou que o governo Lula “não sabe onde quer chegar”. Ratinho, porém, minimizou as circunstâncias políticas do tarifaço, alegando que “Trump não pegou o Brasil para discutir esse assunto por causa do Bolsonaro” e que o ex-presidente “não é mais importante do que a relação comercial entre Brasil e EUA”. A fala também foi alvo de reprimenda de Eduardo.
De acordo com Ratinho, o governo do Paraná atua para abrir uma linha de crédito emergencial, de até R$ 400 milhões, para atender empresas e indústrias afetadas. A medida será tomada junto ao Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE), que atende também Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O governador gaúcho Eduardo Leite (PSD), outro que tenta se cacifar como presidenciável, mas fora do bloco bolsonarista, foi mais um a anunciar abertura de crédito para os setores mais atingidos.
Em debate promovido pelo jornal O Globo, Leite chamou de “imperdoável” a atuação de Eduardo em favor das tarifas. Por outro lado, ele se uniu aos demais governadores de direita nas críticas a Lula:
“Só agora, a poucos dias da entrada das tarifas em vigor, o presidente Lula enviou o chanceler (Mauro Vieira) a Washington. Acho que foi muito atrasado”, criticou.
Já o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, se esquivou nos últimos dias de repreender a conduta do filho do ex-presidente, e afirmou que “Lula não quer resolver o problema”. Em paralelo ao discurso para o eleitorado bolsonarista, Caiado vem defendendo uma articulação de governadores para mitigar os impactos das tarifas. Na semana passada, anunciou a criação de uma linha de crédito emergencial para empresas atingidas, condicionada à “manutenção de empregos”. (Com informações do jornal O Globo)
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