Terça-feira, 15 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 15 de julho de 2025
Dedicado à vida acadêmica e às análises profundas, de caráter estrutural, Edmar Bacha evita se envolver com a conjuntura. Após anos acompanhando o noticiário em tempo real, hoje ele recusa entrevistas. Ainda assim, um dos pais do Plano Real e imortal da Academia Brasileira de Letras conversou por duas vezes com o Estado de S. Paulo: antes e depois do tarifaço de Donald Trump.
Na primeira conversa, na segunda-feira (7), foi categórico: “O governo Lula já acabou. Ele apenas não sabe”. Já na sexta (11), embora mantivesse o tom direto e ácido – marca registrada de Bacha –, o cenário havia mudado. “A situação dele foi da água ao vinho. Mais uma vez, Lula mostrou que nasceu com o bumbum virado para a lua.”
O economista avalia que se repetirá no Brasil o que foi visto no Canadá, na Austrália e no México. “Ao fazer esses ataques tributários, Trump criou condições para que seus supostos aliados perdessem as eleições.” Esse é seu diagnóstico sobre a taxação de 50% às importações brasileiras: “Lula estava na corda bamba e Trump o ressuscitou”.
Para Bacha, o Brasil precisa ter uma atitude dura, mas não responder com um tiro no pé. “Retaliar com a reciprocidade nas tarifas vai acabar com o comércio entre o Brasil e os EUA.” A solução, segundo ele, será negociar – e, até lá, a incerteza paira. “Trump é essa coisa maluca. Nunca se sabe se é ameaça ou se virá uma medida concreta. Esse é o problema. A incerteza é paralisante. Ninguém sabe que atitude tomar. E, nesse caso, é melhor esperar do que produzir.” O resultado? Será de prejuízo à economia global. “Minha dúvida é apenas sobre o grau do dano que vamos enfrentar.”
A China também está no radar de Bacha. Em sua avaliação, a política mercantilista agressiva adotada por Xi Jinping tende a frear o crescimento global. “Se eles mantiverem o modelo atual, vai ser difícil para todos. Mas, se a China passar a priorizar o consumo interno, o país crescerá mais – e o mundo também.” Para ele, essa transição é fundamental para aliviar as tensões no comércio internacional.
Cenário interno
Apesar das mudanças no contexto nacional, Bacha mantém o alerta para a falta de governabilidade. Uma das vozes mais respeitadas da economia brasileira, ele fala com a autoridade de quem já viu o presidencialismo de coalizão funcionar por dentro. Durante o governo FHC, presidiu o BNDES e acompanhou de perto os bastidores do poder. “Naquele tempo, havia de fato uma partilha entre o Executivo e o Legislativo – mas o presidente mantinha o comando. Isso acabou. Lula não controla nada.”
A crise ficou escancarada no episódio do IOF – medida proposta por Lula que Bacha classifica como “absurda”. Para o economista, o erro foi duplo. De um lado, o governo tentou utilizar o imposto como instrumento arrecadatório, o que ele considera inconstitucional. De outro, o Congresso respondeu com outra irregularidade: derrubou o decreto, também de forma inconstitucional. “É muito atípica a situação que estamos vivendo”, resume.
Bacha não minimiza os desafios atuais, mas argumenta que eles estão longe da complexidade do período em que esteve no setor público – marcado por uma hiperinflação de 3.000%. Não por acaso, foi descrito em perfil da The Economist, em 2017, como um “lutador contra a inflação”, em referência ao seu papel central na criação do Plano Real. “Era outro Brasil. A situação era muito mais grave. O cenário externo também era desfavorável. Enfrentamos a crise da moeda mexicana em 1994, a dos países asiáticos em 1997, a da Rússia em 1998 – e a nossa própria, em 1999.” (Com informações do Estado de S. Paulo)
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