Segunda-feira, 06 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 6 de outubro de 2025
Dois meses após a entrada em vigor do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o impacto na economia brasileira é menor do que o estimado inicialmente.
Da pauta de exportações, 44,6%, ou seja, menos da metade dos produtos, estão sob impacto do percentual máximo, de 50%. Outros 29,5% são sobretaxados em menor carga. E há 25,9% de itens que estão isentos.
Os dados são de um monitoramento da Câmera Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), com base na análise da relação comercial dos dois países em 2024, a partir de números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
A radiografia do impacto do tarifaço mostra que os produtos-alvo de alíquota máxima são commodities, como café, carne e açúcar, que têm mais facilidade para redirecionar as vendas a outros mercados, explica Fabrizio Panzini, diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Amcham Brasil. É esse ponto que reforça o impacto menor que o previsto, a capacidade de escoar produção a outros países.
No setor de café, as exportações para o mercado americano, o maior do mundo para a bebida, despencaram 56% em setembro em relação a 2024, e devem zerar nos próximos dias, enquanto países como a Alemanha se consolidam como destinos alternativos.
Marcos Matos, diretor executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), diz que o tarifaço provocou forte alta nos preços para o consumidor americano. Em 30 de julho, o preço do café era de 284 centavos de dólar por libra-peso. Atualmente, está em torno de 380 centavos:
“Isso causou uma grande realocação do mercado. A Colômbia exporta 40% para os EUA e 20% para a Europa. O Brasil, 16% para os EUA e 50% para a Europa. Aqueles 20% da Colômbia para a Europa vão reduzir e eles vão focar nos EUA. E o Brasil vai focar em outros países. Vamos ver o volume de vendas aos EUA cair abruptamente. Tende a zerar neste início de mês”, disse.
Em outros setores, porém, o impacto das tarifas pesa e se traduz em estoques lotados, pressão nos custos e demissões enquanto se busca crédito e novos mercados. Na indústria da madeira, já são mais de 4 mil trabalhadores dispensados. Em outras áreas, que dependem menos das exportações aos EUA, a saída é ampliar as vendas no mercado interno.
“O impacto é muito importante principalmente quando se olha setorial e regionalmente. Fora das commodities, o restante acaba ficando muito mais fragilizado, como o mel do Nordeste, a madeira e os móveis do Sul e as máquinas e equipamentos do Sudeste. É um grupo que a tarifa vai derrubar as exportações caso não seja feita alguma ação”, avalia Panzini, da Amcham Brasil.
Quando se observa o total de exportações brasileiras aos EUA no ano passado, é possível verificar que 74,1% se tornaram alvo este ano de algum tipo de sobretaxa.
O grupo formado por commodities foi atingido duplamente, tanto pela tarifa recíproca de 10% anunciada por Trump em abril junto de uma grande tabela de países e números diante das câmeras, quanto pela sobretaxa adicional de 40% que entrou em vigor a partir de agosto. O somatório destas duas categorias resulta na alíquota máxima de 50%.
Enquanto o grupo formado por produtos como ferro fundido, aviões e suco de laranja foi alvo somente da tarifa recíproca de 10%. E um conjunto minoritário foi onerado com a sobretaxa anunciada em agosto, de 40%, como medicamentos e filé de peixe.
No xadrez tarifário de Trump, há espaço para produtos que foram impactados por tarifas setoriais específicas, previstas no âmbito da Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio dos EUA, que permite a imposição de tarifas sobre bens considerados críticos para a segurança nacional.
É nesta categoria que se encontram aço, alumínio e cobre, com percentual de 50%, e automóveis e autopeças, com taxa de 25%. Somados, os produtos atingidos por tarifas setoriais chegam a 9,8% da pauta.
Estatísticas mostram o impacto da avalanche de tarifas. Dados do governo federal mostram que, de janeiro a agosto, as exportações aos EUA subiram 1,6% na comparação com o ano passado. A alta, porém, é puxada pelo primeiro semestre: em agosto, as vendas desabaram 18,5%.