Segunda-feira, 04 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de agosto de 2025
A refrega de montadoras de automóveis que ocupou o noticiário nos últimos dias com ameaças e ofensas públicas, tendo de um lado as “tradicionais” General Motors, Stellantis (Fiat e Peugeot, entre outras), Toyota e Volkswagen, e de outro a entrante chinesa BYD, é o reflexo de uma política que há sete décadas cerca de protecionismo a indústria automotiva. Desde o Plano de Metas, de Juscelino Kubitschek, nos idos dos anos 1950, o setor é beneficiário de programas de incentivo que, entra governo, sai governo, são intocáveis.
O plano da vez, direcionado a carros elétricos, propiciou a instalação da fábrica da BYD na Bahia em julho deste ano. Como tradicionalmente ocorre no País, não se trata exatamente de uma fábrica, mas de um centro de montagem de carros que vêm de fora total ou parcialmente desmontados. A invasão de carros chineses já havia começado antes, embalada pela política de tarifa zero para os elétricos, que vigorou até o final de 2023.
Pelos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a China negociou 62.613 carros elétricos com o Brasil no primeiro semestre de 2024, uma alta de incríveis 717% em relação a igual período de 2023. Mais de 90% dos carros elétricos que entraram no País eram chineses. Meses antes da inauguração, a BYD solicitou ao governo a aplicação de tarifa zero, e os concorrentes, que já falavam em dumping, reagiram.
No mês passado, os presidentes das quatro grandes montadoras enviaram ao presidente Lula da Silva uma carta “alertando” para a possibilidade demissões em massa em suas unidades com o incentivo que, avaliaram, não serviria a um modelo de transição, mas a “um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer”. Em resposta, a BYD divulgou uma nota pública acusando-os de “chantagem emocional” e chamando-os de “dinossauros” e de “barões da indústria”.
Foi um espetáculo lamentável, que provocou uma reunião de emergência do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior. Para debelar o incêndio, a solução paliativa foi estabelecer cotas de tarifa zero por seis meses e a partir daí iniciar o cronograma de tarifação que chegará a 35% em janeiro de 2027, um ano e meio antes do previsto.
Polêmica setorial à parte, o fato é que o Brasil fracassou na indução de uma indústria moderna e competitiva no setor automotivo, restando ao consumidor brasileiro pagar caro por modelos bem piores do que os vendidos no exterior.
A substituição de importações vigorou até o início dos anos 1990 e, ainda assim, em 1995 as alíquotas de importação de carros chegaram a inacreditáveis 70%. Os nomes dos programas protecionistas variaram conforme a criatividade do momento (Mover, Rota 2030, Inovar-Auto e Regime Automotivo), mas o objetivo sempre foi um só: impedir que as montadoras locais enfrentassem de fato a concorrência externa e se modernizassem. É difícil acreditar que, passadas sete décadas, o setor ainda precise de incentivos e proteção – e que se engalfinhe publicamente por isso. (Opinião/Jornal O Estado de S. Paulo)
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