Terça-feira, 17 de Setembro de 2024

Home em foco Guerra na Ucrânia causou um drástico aumento de casos de violência doméstica

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Abusos sexuais, sexo em troca de comida, machismo no front, abandono, solidão, e agora, um ano após o início da guerra na Ucrânia, o aumento vertiginoso da violência doméstica. O conflito impactou desproporcionalmente as ucranianas: dos quase 8 milhões de refugiados em toda a Europa – e outros 6 milhões deslocados dentro do país –, estima-se que 65% sejam mulheres. Ainda há relatos de centenas de “desaparecidas” e o tráfico de pessoas é um grande risco para quem foge e para quem fica.

A organização humanitária internacional ActionAid alerta que a violência e a exploração de gênero dispararam na Ucrânia nos últimos meses e pede que a resposta à invasão russa priorize mulheres, meninas e comunidades marginalizadas “para garantir que seus direitos e necessidades estejam no centro da resposta humanitária”.

De acordo com o Escritório para Assistência Humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês), desde o início da escalada da guerra foram registrados diversos tipo de violência de gênero, incluindo violência doméstica, tráfico humano, exploração sexual e abusos. O escritório estima que, apenas este ano, 3,6 milhões de mulheres e meninas irão precisar de ajuda na Ucrânia e em países vizinhos.

Em outubro do ano passado, uma comissão internacional independente denunciou à ONU “uma série de crimes de guerra cometidos na Ucrânia”, que incluía casos de violência sexual contra mulheres e meninas. O Kremlin negou as acusações, apesar das amplas evidências e relatos coletados por investigadores ucranianos e internacionais.

Apesar disso, organizações humanitárias lideradas por mulheres na região vêm enfrentando assédio, processos legais e outras ameaças, denuncia o informe da ActionAid. As ONGs também não estão recebendo financiamento adequado e carecem de parcerias de doadores e intermediários internacionais, além de não terem lugar nos espaços de tomada de decisão liderados pelo governo e pela ONU.

Além dos traumas da guerra, “é bastante preocupante o aumento do número de casos relacionados à violência de gênero e à violência sexual nos últimos meses”, afirma Yuliya Sporysh, fundadora da Girls, uma das organizações parceiras da ActionAid que apoia mulheres que foram abusadas ou sofreram violência doméstica com apoio psicossocial.

“Depois de terem sobrevivido a atos de violência causados pela guerra, muitas das mulheres com quem trabalhamos também tiveram que escapar do abuso doméstico”, afirma. “A violência doméstica e a violência de gênero na Ucrânia não desapareceram, [elas] só foram agravadas pela violência sexual relacionada ao conflito.”

Veronika Tereshenko, voluntária da ONG Insight, outra parceira da ActionAid na Ucrânia, conta que após receberem ajuda inicial, algumas mulheres voltam para pedir ajuda jurídica. Muitas delas precisam de itens básicos, como fraldas para crianças, itens de higiene pessoal e comida. Outras, de assistência psicológica.

“Dois dias depois de ajudar uma mulher enviando ajuda humanitária, recebo uma ligação: ‘Vocês oferecem também assistência jurídica? Porque estou sofrendo, tenho problemas com meu marido e preciso que você me ajude’”, conta. “Muitas mulheres também dependem de nós para alimentar seus filhos. Outras estão simplesmente se sentindo sozinhas: é difícil para todas e precisamos ajudá-las.”

Machismo no front

A falta de mecanismos de proteção na fronteira, especialmente no início da guerra, também abriu espaço para traficantes de pessoas, que têm como alvo mães solos e crianças desacompanhadas. Katarzyna Nowakowska, psicóloga da Fundação Feminoteka, da Polônia, descreveu o que chamou de “uma catástrofe” no relatório publicado pela ActionAid.

“Recebemos relatos de nossas redes e de voluntários nas fronteiras de que homens estão aparecendo sem identificação para oferecer transporte ou acomodação às mulheres ucranianas”, contou.

Além de serem altamente vulneráveis a abusos durante a fuga, mulheres e meninas ucranianas não recebem a proteção necessária depois de chegarem a outros destinos na Europa, já que as barreiras existentes nos países vizinhos impedem o acesso aos cuidados de saúde sexual e reprodutiva.

A Polônia, país que mais recebeu ucranianos, por exemplo, tem algumas das leis de aborto mais rígidas da Europa. Em maio do ano passado, a agência da ONU para Refugiados (Acnur) pediu o acesso ao procedimento para refugiadas ucranianas, em meio a relatos de estupro e violência sexual. Até hoje, nada foi feito.

Mesmo no front — o número de mulheres no Exército ucraniano quase dobrou nos últimos cinco anos — as mulheres precisam lutar por seu lugar em um universo bastante masculino. Apesar do aumento da presença feminina, elas somam 40 mil de acordo com fontes da área militar, uma série de problemas persiste, desde equipamentos projetados apenas para homens até episódios de machismo.

As estruturas do Exército também seguem bastante masculinas: as mulheres têm de usar uniformes masculinos, não têm acesso a roupas íntimas ou térmicas e enfrentam dificuldade para encontrar botas de tamanho pequeno.

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