Domingo, 11 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de maio de 2025
O IPCA, índice oficial de inflação do país, desacelerou para 0,43% em abril, ante uma alta de 0,56% em março, informou ontem o IBGE, mas economistas chamam a atenção para sinais de pressão que atrapalham as perspectivas de uma política de juros menos restritiva. As principais preocupações são as altas dos preços de serviços e o espalhamento dos reajustes.
A inflação de um ano subiu 5,53%, acima da meta perseguida pelo Banco Central (BC), que é de 3%, e do teto, de 4,5%. Por sete meses seguidos, desde outubro, o IPCA vem estourando o teto da meta.
Dos nove grupos de produtos e serviços cujos preços são pesquisados pelo IBGE, oito registraram altas em abril. O aumento no grupo Alimentos e Bebidas arrefeceu para 0,82%, ante 1,17% em março, mas mesmo assim teve o maior impacto no índice, de 0,18 ponto percentual.
Outra pressão significativa foi dos produtos farmacêuticos, que subiram 2,32% após o governo federal autorizar reajustes de até 5,09% nos medicamentos, puxando a alta do grupo Saúde e Cuidados pessoais para 1,18%.
Ovo e arroz têm deflação
O arrefecimento da inflação do grupo Alimentos em abril ocorreu porque itens importantes da cesta de consumo ficaram mais baratos, explicou Fernando Gonçalves, gerente de pesquisa do IPCA. Foi o caso de carnes (-0,08%), arroz (-4,19%) e ovo (-1,29%). A cenoura, com queda de 10,4% (-36,9% em um ano), registrou o maior recuo entre os alimentos.
O item Transportes teve queda de 0,38% — combustíveis e passagens aéreas ficaram mais baratos. A boa notícia aponta para a perspectiva de queda nas cotações do petróleo por causa da guerra comercial do presidente americano, Donald Trump, o que deve manter os preços dos combustíveis comportados.
Com o ciclo de alta da Selic — a taxa básica de juros subiu 0,5 ponto percentual esta semana, para 14,75% ao ano — chegando perto do fim, como sinalizou o próprio Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, na quarta-feira, uma alta menor dos alimentos poderia sinalizar que a inflação começou a ceder. Mas a composição do IPCA de abril não trouxe boas perspectivas sobre isso, destacaram economistas.
Luís Otávio Leal, economista-chefe da gestora G5 Partners, escreveu em relatório que a desaceleração de abril veio com um “gosto amargo na boca”. Igor Cadilhac, economista da empresa de pagamentos PicPay, avaliou que “qualitativamente, o resultado foi desfavorável”, e o analista do banco Goldman Sachs Alberto Ramos ressaltou que “as pressões inflacionárias continuam fortes e altamente disseminadas”.
A disseminação apareceu no próprio grupo Alimentos e Bebidas. O “índice de difusão” — que mede a proporção dos itens que tiveram alta em determinado período, em relação ao total de itens pesquisados — dos produtos alimentícios subiu para 70% em abril, ante 55% em março. Com isso, a difusão total do IPCA subiu para 67%, ante 61% em março, a maior desde dezembro.
Além dos alimentos, o encarecimento dos serviços vem preocupando nos últimos meses. Os serviços ficaram 0,2% mais caros em abril, ritmo mais brando do que o 0,62% de março — mas o resultado foi impactado pela queda nas passagens aéreas, cujos preços variam muito mês a mês. Em 12 meses, os serviços acumulam alta de 6,03%, bem acima do teto da meta.
O aumento do espalhamento da inflação e a dinâmica pressionada dos preços de serviços são costumeiramente vistos por analistas como elementos negativos da composição da inflação. Isso porque os saltos nos preços de alimentos, em parte por causa de eventos climáticos, tendem a ser choques temporários. Já os preços de serviços reagem mais à dinâmica da demanda.
— A taxa de desemprego está diminuindo, temos um maior número de pessoas com emprego de carteira assinada, que traz mais segurança para as famílias, tem aumento da massa salarial. Isso tudo contribui para uma dinâmica de consumo — disse Gonçalves, do IBGE.
Economistas frequentemente lembram que a inflação de serviços é a que mais reage à política de juros.
— O que pressiona mais (a inflação) é a parte de serviços. É uma coisa que precisa mostrar uma desaceleração mais consistente — afirmou André Braz, coordenador dos Índices de Preços da Fundação Getulio vargas (FGV). — Dado o peso e a relevância dos serviços, e a sua resistência, a inflação de serviços ainda não mostra que está no ponto de a taxa Selic recuar.
No comunicado de quarta-feira sobre a reunião do Copom, o BC incluiu no cenário os possíveis efeitos do tarifaço de Trump. Tarifas de importação mais altas poderão acelerar a inflação nos EUA, e as projeções de crescimento para a economia global não param de ser revisadas para baixo. Um esfriamento da demanda poderia aliviar a carestia nos demais países. As informações são do portal O Globo.
No Ar: Pampa Na Madrugada