Quinta-feira, 04 de Setembro de 2025

Home Colunistas Hamilton Naki

Compartilhe esta notícia:

Hamilton Naki nasceu em 1926, em uma família humilde de negros, na pequena aldeia do Estado de Cabo do Leste, na África do Sul.

Aos 14 anos, tendo concluído apenas o curso primário, foi em busca de trabalho na Cidade do Cabo e conseguiu emprego como jardineiro na Universidade da Cidade do Cabo.

Sempre muito interessado nas tarefas que lhe eram atribuídas, em poucos anos passou a trabalhar no laboratório da instituição, cuidando de animais de pesquisa, como porcos e ratos.

Hamilton fazia parte de um seleto grupo de pessoas que enxergam no trabalho uma oportunidade de aprender e evoluir, mesmo que as tarefas não façam parte de suas atribuições formais. Com determinação e curiosidade, transformou-se em um verdadeiro “faz-tudo”, participando de procedimentos cirúrgicos em animais, incluindo suturas, anestesias e cuidados pós-operatórios.

Apesar da falta de estudos formais, sua técnica e habilidade logo chamaram a atenção dos médicos. Em dezembro de 1967, foi convidado a assessorar uma cirurgia que entraria para a história: o primeiro transplante de coração bem-sucedido, realizado pelo Dr. Christian Barnard, chefe da equipe.

Naquele dia, Hamilton Naki liderou a equipe responsável pela retirada do coração da doadora. Anos depois, o próprio Dr. Barnard declararia: “Se tivesse tido a oportunidade, o Sr. Hamilton Naki poderia ter sido um cirurgião melhor do que eu.”

Durante o tempo em que trabalhou ao lado de Barnard, Naki se especializou como técnico de laboratório da Faculdade de Medicina, recebendo permissão especial para continuar suas pesquisas em cirurgia experimental, incluindo transplantes. Ensinava técnicas cirúrgicas a estudantes e médicos recém-formados, embora jamais pudesse atuar como médico de humanos devido às leis racistas do apartheid.

Nas imagens que correram o mundo sobre o primeiro transplante de coração, Naki não podia aparecer. Fora delas, vivia em uma casa sem energia elétrica e saneamento básico, em um bairro pobre.

Somente após o fim do apartheid, em 2002, Hamilton Naki foi oficialmente reconhecido. Foi condecorado com a mais alta honraria sul-africana, a Ordem Nacional Mapungubwe, por sua contribuição às ciências médicas. No ano seguinte, recebeu um diploma honorário em medicina da Universidade da Cidade do Cabo.

Naki tornou-se mundialmente conhecido e nunca se queixou das injustiças que sofreu. Pelo contrário: era descrito como uma pessoa afável e acessível. Não se enquadrava nos padrões de beleza, mas carregava no rosto uma expressão serena, que transmitia a sensação de “boa pessoa” e cativava a todos ao seu redor.

Foi um exemplo para brancos, negros, asiáticos — enfim, para toda a humanidade — de superação, resiliência e dignidade. Viveu em meio a restrições, mas sem mágoas, rancores ou vitimismo, soube aproveitar cada oportunidade para progredir.

Hamilton Naki morreu em 29 de maio de 2005, aos 78 anos, em sua casa, na cidade de Langa, na África do Sul.

Rogério Pons da Silva
Jornalista e empresário
rponsdasilva@gmail.com

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Líderes contam 300 votos pró-anistia na Câmara
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa News