Quarta-feira, 19 de Novembro de 2025

Home Rio Grande do Sul Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre realiza primeiro transplante gaúcho de membrana amniótica em criança com queimadura

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O Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre realizou neste mês o primeiro transplante de membrana amniótica em uma criança no Rio Grande do Sul, após a incorporação oficial da técnica, em junho, pelo Ministério da Saúde ao Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se de um marco no tratamento de pacientes com queimaduras e também uma nova perspectiva para casos pediátricos e adultos de média e alta complexidade.

Inovadora, a terapia regenerativa foi aprovada em maio pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e incluída no Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes.

A membrana amniótica é um tecido coletado durante o parto, mediante autorização da gestante, e possui propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e altamente cicatrizantes. Funcionando como uma barreira protetora contra bactérias e agentes infecciosos – um dos fatores de risco de agravamento para quem sofre queimadura.

Embora o material já seja utilizado em pacientes da modalidade no Brasil desde a década de 2000, os procedimentos estavam restritos a casos excepcionais, mediante autorização pontual dos hospitais para situações de urgência, já que não havia regulamentação oficial. Com a publicação do novo marco regulatório do SNT, o o procedimento passou a ter regras claras, padronização de critérios e segurança ampliada, com oferta garnatida pelo SUS.

O paciente em questão é um bebê de 1 ano e 5 meses, natural do município de Mostardas (Litoral Norte) e que sofreu queimadura por óleo quente, atingindo cerca de 8% de sua superfície corporal. Ele chegou ao HPS na manhã de 13 de novembro e, devido à gravidade e localização das lesões, foi imediatamente indicado ao transplante, idealmente realizado nas primeiras 48 horas após o acidente, para reduzir risco de infecção e necessidade de múltiplos curativos.

Liderada pelo cirurgião-plástico Renato Rodrigues, a equipe contou com a cirurgiã-plástica Carla Sulzbach, o anestesista Luciano Saldana, o enfermeiro Marcos Portela e os técnicos de enfermagem Emerson Santos, Luana Abreu e Raquel Ricarte Duarte.

Em média, um paciente queimado fica 1,3 dia internado para cada 1% de área corporal queimada, ou seja, em um caso de 10% de área atingida, a permanência costuma chegar a 13 dias. A literatura aponta que o uso da membrana pode reduzir até nove dias desse período.

A membrana permanece aderida por cerca de 14 dias, sem necessidade de troca ou remoção, desaparecendo conforme ocorre a cicatrização. A expectativa é que a criança receba alta antes do 10º dia de internação, caso a evolução se mantenha favorável.

Movimentação

A instituição viabilizou rapidamente o procedimento por meio da articulação entre sua equipe e o banco de tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, instituição responsável pela captação, preparação e distribuição da membrana amniótica. Desde outubro, a Santa Casa já realizou 12 captações, cinco em outubro e sete em novembro.

Em 7 de outubro foi feita a primeira captação, ao passo que o primeiro transplante do Estado foi realizado no dia 5 de novembro, na própria Santa Casa de Porto Alegre. O Hospital Cristo Redentor também já realizou a terapia regenerativa, na semana passada. O caso do HPS foi o quinto transplante de membrana amniótica em Porto Alegre.

Conforme a médica Luciana Barcellos, responsável técnica da Pediatria e da UTI Pediátrica do HPS, o transplante tende a modificar o curso da internação:

“No manejo do grande queimado, usamos curativos de longa permanência que possuem custo elevado e são um dos principais insumos no tratamento. Com a membrana amniótica, que é fornecida pelo banco de tecidos sem custo para o hospital, conseguimos substituir esse processo e obter benefícios comprovados: aceleração da cicatrização, redução da dor, diminuição de prurido e retrações, além de menor risco de complicações”.

“A cada desbridamento cirúrgico de um paciente queimado, precisamos oferecer uma cobertura substitutiva de pele, seja autoenxerto, matriz dérmica, membrana amniótica ou, por último, coberturas sintéticas, que são de alto custo”, explica a diretora do HPS, Tatiana Breyer. “A chegada dessa terapia representa um avanço incrível para o HPS e para os nossos pacientes, ampliando possibilidades terapêuticas com um recurso seguro e muito mais acessível.”

Coordenador do Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, Eduardo Chem, acrescenta “Com o trabalho especializado do Banco de Tecidos da Santa Casa, estamos presenciando um passo decisivo na captação, processamento e uso da membrana amniótica no tratamento de queimaduras. Esse avanço qualifica o cuidado, amplia o acesso e melhora a recuperação de quem enfrenta uma lesão cutânea”.

O Ministério determinou que os serviços de saúde têm até 180 dias (a partir de 24 de junho) para implementar a terapia no âmbito do SUS. A capital gaúcha, porém, antecipou-se e já realizou o procedimento em pleno alinhamento com a rede de transplantes.

(Marcello Campos)

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