Domingo, 26 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de setembro de 2023
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros a 12,75% ao ano. A decisão já era esperada, mas havia alguma dúvida sobre o ritmo de queda da Selic, sanada com o apoio unânime ao corte de 0,5 ponto porcentual nessa semana e encomendado para as reuniões de novembro e dezembro.
Ao explicar a decisão, o comitê destacou, no cenário externo, as incertezas em relação à inflação nos Estados Unidos e na Europa e as perspectivas de menor crescimento econômico da China. No mesmo dia, o Federal Reserve (Fed) manteve as taxas inalteradas no intervalo entre 5,25% e 5,50% anuais e sinalizou que a política monetária ficará em terreno restritivo por mais tempo do que se esperava. Assim, a redução do diferencial entre os juros norte-americanos e os brasileiros pode vir a tornar-se mais um fator de risco a ser considerado pelo BC.
Internamente, não houve novidades. O Copom destacou que as expectativas de inflação permanecem acima da meta no horizonte dos próximos três anos. A resistência da inflação de serviços e o vigor da atividade econômica continuam a ser monitorados. A exemplo do que faz em todos os comunicados, o BC reiterou a disposição em perseguir as metas de inflação. Por isso mesmo, não passou despercebida a menção à importância da política fiscal para ancorar as expectativas de inflação.
Para surpresa e incômodo de alguns analistas acostumados a ver o Banco Central bater nessa mesma tecla nos últimos anos, não houve qualquer menção a questões de cunho fiscal no comunicado divulgado em agosto, quando o colegiado voltou a reduzir os juros. Agora, o assunto voltou a ser mencionado, mas uma única vez. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, disse o BC.
Ainda que sucinto, o trecho foi interpretado como um apoio à disposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em buscar o equilíbrio das contas públicas. De um lado, a meta de zerar o déficit no ano que vem tem sido boicotada pelo Congresso e por parlamentares do próprio PT. De outro, o ministro tem sido pressionado por parte do mercado a esclarecer suas projeções para as receitas e despesas do Orçamento do ano que vem.
Nesse sentido, o comunicado do BC reforçou a importância de as políticas monetária e fiscal remarem para a mesma direção. Embora o comportamento dos preços tenha de fato arrefecido nos últimos meses, trazendo alívio para os consumidores, as expectativas para a inflação de 2025, segundo o boletim Focus, permanecem estagnadas em 3,5% desde o fim de julho.
É, certamente, um patamar mais confortável que a inflação de dois dígitos com que o País teve de lidar no passado recente, mas ainda está acima do centro da meta definida para 2025, de 3%. E são as expectativas, não a inflação corrente, que norteiam os juros futuros, as apostas do mercado financeiro e a própria atuação do Banco Central.
Com a sanção do arcabouço e o avanço da reforma tributária sobre o consumo na Câmara, o governo Lula colheu bons resultados no Congresso no primeiro semestre. A retomada dos trabalhos no Legislativo após o recesso, no entanto, veio acompanhada de dificuldades para aprovar medidas para recuperar receitas.
O plano para rever subsídios e gastos tributários até agora não saiu, e as demandas financeiras de Estados e municípios são crescentes. Sem alternativa, o Executivo se viu obrigado a acomodar o Centrão na Esplanada dos Ministérios para tentar formar uma base firme no Congresso.
Por enquanto, o discurso de Haddad tem sido suficiente para manter a aposta nos cortes graduais esperados para a Selic nos próximos meses. Ações concretas do governo para comprimir despesas, bem como um apoio efetivo do Legislativo às propostas para garantir novas receitas, eventualmente poderiam acelerar os movimentos do Banco Central. Até o momento, porém, ambos parecem bastante improváveis.