Segunda-feira, 20 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de abril de 2023
Conforme o cenário eleitoral vai se desenhando na Argentina, fica claro que a disputa pela presidência começa a sair do eixo peronismo versus oposição. Nas ruas, o sentimento é de descrença com toda a classe política e, representando este momento, o nome de Javier Milei surge espontaneamente na boca dos eleitores que esperam um milagre na economia. Entre os que buscam uma solução fácil para o aumento da criminalidade o nome que cresce é o de Patricia Bullrich, citada como exemplo de política “firme” para lidar com a segurança.
Segundo uma pesquisa divulgada nesta semana pelo jornal Clarín e feita pela Reale Dalla Torre Consultores, o aumento do custo de vida é a principal causa de preocupação para os argentinos na eleição deste ano, citada por 80% dos entrevistados. Logo em seguida vem a segurança pública, com 60%. Em meio à inflação acima de 100% e uma sensação de insegurança crescente, os argentinos esperam, cada vez mais, um salvador da pátria.
Walter Prieton, de 52 anos, dono de uma loja de guloseimas no centro de Buenos Aires, diz que não sabe ainda em que vai votar, mas não acredita nem nos peronistas nem nos macristas. Mesmo sem escolher candidatos, o nome de Milei surge espontaneamente como uma opção. “Pelo menos é um economista, sabe o que tem que fazer”, afirma.
Rechaço
O discurso do deputado que mais lhe convence é o rechaço generalizado à classe política. “O que é importante que as pessoas vejam é que a casta política não tem nenhum interesse além do que tem a ver com o poder e a luxúria”, afirmou o candidato em entrevista ao canal LN+ no início deste mês.
Milei ataca Cristina Kirchner – e assim todo o peronismo ao seu redor – da mesma forma que ataca Horácio Larreta, o candidato da coalizão liderada por Maurício Macri. Segundo ele, ambos buscam apenas o poder e não olham para a população. Um pensamento compartilhado por Prieton e dezenas de outros argentinos que falaram com a reportagem.
A pesquisa do Clarín, a primeira realizada após a retirada de Alberto Fernández da corrida eleitoral, dá sinais de consolidação de Milei como uma força para a presidência. Em um cenário sem Fernández, Macri e Kirchner – que ainda não é desconsiderada pelas pesquisas –, a coalizão Liberdade Avança, de Milei, empata com o Juntos pela Mudança, de oposição, e o Frente de Todos, governista.
Enquanto o governo, comandado pelos peronistas, à esquerda, e a oposição macrista, à centro-direita, brigam pela culpa da inflação a 104,%, Milei aparece nos programas de televisão prometendo fazer “as mudanças que ninguém tem coragem”. Formado em economia, o deputado utiliza termos técnicos para explicar o que pretende fazer para “parar a sangria” e sua maior proposta econômica é a da dolarização da economia, inspirando-se no ex-presidente Carlos Menem. Uma proposta criticada por muitos economistas, já que a Argentina enfrenta uma ausência de reservas em dólares.
Apesar do ceticismo do eleitor mais moderado, segundo a pesquisa Opina Argentina, realizada dias antes de Fernández desistir da candidatura, Milei tem a menor rejeição até o momento entre os principais candidatos à presidência.
Criminalidade
O segundo tema que mais preocupa os argentinos é o da segurança. E neste campo a candidata que mais ganha vantagem é a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich. Ela disputará as primárias do partido Proposta Republicana (PRO) com Larreta e em algumas pesquisas chega a despontar na frente do colega.
Ainda que venha de uma das famílias mais tradicionais da Argentina e tenha sido ministra de Macri, Bullrich busca se colocar como diferente do macrismo. Larreta também tentou se descolar do ex-presidente que é altamente impopular no país, tomando decisões até criticadas dentro do partido recentemente, mas nas ruas sua imagem ainda é colada a de Macri.
Luis Antonio Quintana, de 68 anos, comanda uma mercearia em uma rua de esquina no centro de Buenos Aires e conta que tem simpatia por Bullrich por sua “posição firme”. Ele viu como positiva a sua gestão frente ao Ministério da Segurança, por “demonstrar disposição para agir”. Por estar na região central da capital, ele conta que já viu muitos roubos, furtos e invasões de comércio. “Estou aqui há 25 anos e comigo eles não mexem”, conta com severidade. “Mas já vi muita coisa acontecendo nessa rua”.
Ainda que os números oficiais de homicídios, roubos e furtos tenham diminuído na Argentina de 2014 a 2021 – ainda não há dados publicados de 2022 –, a sensação entre os portenhos é de que a situação nas ruas está pior. Entre motoristas de aplicativo há um cuidado para aceitar corridas por regiões centrais da cidade, e não é incomum encontrar pequenas lojas que só atendem através de grades, mesmo durante o dia.