Quarta-feira, 21 de Maio de 2025

Home Economia Inflação prejudicou Bolsonaro e limitará planos de Lula, diz consultora econômica

Compartilhe esta notícia:

A inflação prejudicou os planos de reeleição do presidente Jair Bolsonaro e será um limitante também para o perfil expansionista do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou a consultora econômica Zeina Latif.

Em evento sobre A Política Econômica no Futuro Governo: Desafios e Escolhas Críticas, da Fundação Fernando Henrique Cardoso, a consultora disse que o peso da economia é grande e acabou guiando o voto do eleitor.

“Quando pensamos na lógica do eleitor mediano, o peso da economia é muito grande e 60% do eleitorado ganham até dois salários mínimos. De fato, a inflação pode ter cobrado preço para a eleição de Bolsonaro”, afirmou Zeina, que foi secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo no governo de Rodrigo Garcia (PSDB). “Quando olhamos para a economia, especialmente para o mercado de trabalho, esperava-se sua reeleição. Mas a inflação machucou esse eleitor mediano.”

Segundo Zeina, isso mostra que “temos uma sociedade que valoriza a inflação baixa, que há um descontentamento aqui”. “E, portanto, no exercício de seu pragmatismo, Lula precisa colocar isso na conta. Há limites até onde pode esticar essa corda da questão fiscal”, disse. “Quando a gente olha o DNA dos economistas do PT ou o que foi a maior parte do tempo a gestão de política fiscal, ela teve viés expansionista e pró-cíclico. Então, é difícil acharmos que isso vai mudar radicalmente.”

Apesar do “pragmatismo” do presidente eleito, Zeina afirmou serem necessários contrapontos importantes como sinalização de quem será o ministro da Fazenda e sinais do próprio time de transição de um lado “mais ligado à disciplina fiscal”.

Ela afirmou que não é apenas o mercado financeiro preocupado com a questão
fiscal, mas também o setor produtivo, por conta da questão de juros.

“Há um avanço importante, que é a autonomia do Banco Central, em que o
presidente continua e tem dados sinais muito claros de política monetária, frente à deterioração fiscal com impacto no câmbio e expectativas inflacionárias”, disse.

Ela acrescentou que, do ponto de vista de inserção mundial, abre-se agora uma janela importante para o Brasil. “Temos de olhar como o próximo governo vai posicionar o Brasil para se beneficiar desses ventos favoráveis. Estamos falando de um cenário internacional que não é fácil, é complexo, mas marginalmente é benéfico ao Brasil, como um pais exportador liquido de commodities, com ativo desse lado ambiental e como um país com valores democráticos do Ocidente”, afirmou.

“Seremos competentes para se beneficiar tanto de ponto vista do comércio quanto de capitais internacionais? Fica essa dúvida. São tantos temas internos, nós a serem desatados, que o receio é o governo não conseguir avançar nesse cenário externo”, continuou.

No evento ainda, o economista Bernardo Appy afirmou que o foco do próximo
governo não deve estar apenas em aumentar o gasto público, mas também focar em parcerias público-privadas, agenda de regulação com medidas
macroeconômicas, iniciativas como uso do mercado de mercado de capitais para investimento e desenvolvimento, e reformas como a tributária.

Ele disse que se o preço do petróleo no mercado internacional continuar alto e os recursos forem bem geridos, não será necessário aumentar a carga tributária. “Mas se isso não for suficiente, pode precisar”, disse. “É algo que não devemos desconsiderar.”

Appy, que foi secretário de Política Econômica no governo Lula, argumentou que o próximo governo tem a tarefa de acertar na economia para não errar na política. “É importante uma política que seja o máximo possível consistente do ponto de vista macro e do ponto de vista da política fiscal, mas [também] do ponto de vista da política de crescimento econômico. Não é só a reforma tributaria, que é importante do ponto de vista do crescimento, mas toda a agenda regulatória”, disse.

Ele afirmou que, além de uma agenda de avanços, o próximo governo terá de “evitar retrocessos na agenda regulatória”.

“É essencial que o novo governo entenda isso. Não tem número mágico. É o
conjunto e como se gere esse conjunto de políticas públicas. Se ele conseguir gerir bem esse conjunto de políticas públicas, podemos ter bom desempenho da economia nos próximos anos”, disse. “Em contrapartida, se gerir mal, a gente corre o risco de ter um desempenho muito ruim. O que está em jogo não é só o potencial de crescimento do país nos próximos anos. É a nossa própria estabilidade política.”

Segundo ele, a economia dos próximos quatro anos definirá o futuro políticos dos quatro anos seguintes. “Se o próximo governo for mal na economia, a gente corre o risco de voltar a ter o atual governo ou alguma coisa ligada ao Bolsonaro em 2026. E essa é uma preocupação muito grande. Então, o governo do Lula tem que acertar na economia para não errar na política”, concluiu.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Economia

Denúncia do Ministério Público Federal traz foto de arma de policial atingida por tiro disparado por Roberto Jefferson
Mourão diz que Bolsonaro deve “estufar o peito, erguer a cabeça e se mostrar como líder da oposição”
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Tarde