Sábado, 08 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 12 de setembro de 2022
A até agora bem-sucedida contraofensiva ucraniana no Nordeste do país pode ser um ponto de virada no conflito que completou 200 dias nesta segunda-feira (12), dando fôlego para Kiev e gerando preocupações para a Rússia. Os problemas para Moscou, contudo, levantam especulações sobre o possível uso de armas nucleares táticas pelo Kremlin.
As armas táticas, uma subcategoria das chamadas armas nucleares não estratégicas, têm menor alcance e menor potência que as demais. De acordo com analistas, seriam usadas para vencer uma batalha. As estratégicas, por sua vez, têm capacidade de encerrar guerras — e, possivelmente, levar consigo a Humanidade. Nenhuma delas, contudo, foi usada desde as lançadas pelos EUA contra Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
A Rússia é dona do maior arsenal nuclear do mundo, e o presidente Vladimir Putin sugere desde o início da guerra que pode usá-lo se se sentir acuado. Analistas comentaram bastante a possibilidade de disparos nos primeiros dias da guerra, quando os russos acumulavam fracassos em sua cruzada para conquistar as grandes cidades ucranianas.
O tema tornou-se coadjuvante nos últimos meses, quando o Kremlin fez uma mudança de curso e passou a concentrar seus esforços na região do Donbass, no Leste. Com o novo momento favorável à Ucrânia, no entanto, as especulações voltaram.
No dia 7, por exemplo, o general Valeriy Zaluzhnyi, comandante das Forças Armadas ucranianas, fez raros comentários públicos em um artigo para a agência de notícias Ukrinform. Em sua análise mais completa sobre o conflito até o momento, disse que os embates não devem terminar neste ano e que “há uma direta ameaça do uso, sob certas circunstâncias, de armas nucleares táticas pelas Forças Armadas russas”.
“Também não é possível descartar completamente a possibilidade de envolvimento direto das potências globais em um conflito nuclear ‘limitado’, em que a perspectiva da Terceira Guerra Mundial é diretamente visível”, escreveu Zaluzhnyi.
Arsenal russo
Não há uma definição clara de armas nucleares táticas — de forma que o então secretário de Defesa americano, James Mattis, disse em 2018 achar que “não há ‘armas nucleares táticas’. Qualquer arma nuclear usada a qualquer momento muda o jogo estrategicamente”.
No caso russo, as armas não estratégicas geralmente são aquelas com menos de 5,5 mil km de alcance, enquanto as táticas têm menos de 500 km, segundo o centro de estudos britânico de segurança e defesa Rusi. O mais habitual, no entanto, é que armas nucleares sejam medidas em kilotons, unidade equivalente a mil toneladas de TNT.
Segundo o Rusi, acredita-se que a maior parte do arsenal russo tem 10 kilotons ou menos. Algumas, contudo, poderiam chegar a 100 kilotons: para fins comparativos, a bomba lançada sobre Hiroshima tinham 10 kilotons e matou de imediato cerca de 70 mil pessoas.
Estima-se que a Rússia tenha cerca de 2 mil armas táticas, que podem ser usadas em vários tipos de mísseis que habitualmente carregam explosivos convencionais. Algumas podem até ser lançadas de obuses que já são usados pelos russos no campo de batalha.
Possíveis cenários
Com os reveses mais recentes no campo de batalha, os apelos para o uso tático também começam a se intensificar em grupos de Telegram mais radicais em seu apelo ao Kremlin. Um deles diz que a única coisa que pode parar os avanços ucranianos é o uso de armas táticas no Leste e em Kiev, por exemplo.
Os comentários de Zaluzhnyi e a repercussão do avanço de Kiev na linha-dura russa levam analistas ocidentais a especularem possíveis cenários de um ataque. Um deles seria o lançamento de uma bomba sobre o Mar Negro, sem vítimas, para demonstrar força. Disparos contra o presidente Volodymyr Zelensky ou uma cidade ucraniana também são cogitados, segundo analistas entrevistados pela revista Atlantic.
Até agora, entretanto, não há qualquer indício concreto de que os russos têm planos de lançar mão das armas táticas e negam que esta seja sua intenção. Pô-las na ativa também não seria imediato, já que as ogivas ficam armazenadas em locais seguros, e não nas frentes de batalha.
Precisaram, portanto, ser transportadas e preparadas, processo que possivelmente seria visto pelos Estados Unidos e seus aliados na Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) em tempo real na internet. A resposta ocidental à possibilidade é outro ponto que gera dúvidas.
O mero fato de a Rússia ter um arsenal nuclear impacta desde o início a resposta da Otan à guerra: resistiram por meses a enviar armas convencionais de alta tecnologia para Kiev temendo escalar mais o conflito. O envio feito por Washington dos poderosos sistemas de foguetes Himars, por sua vez, só ocorreu após garantias de que não seriam usados para atacar o território russo, o que poderia causar uma cobeligerância americana.