Segunda-feira, 29 de Abril de 2024

Home em foco Investigação da Polícia Federal expõe divisão de forças no entorno de Bolsonaro sobre golpismo

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O avanço das investigações sobre uma suposta trama golpista no governo de Jair Bolsonaro evidenciou a atuação de duas forças distintas no entorno do então presidente no fim de seu mandato. De um lado, um grupo de assessores e militares é apontado pela Polícia Federal (PF) como responsável por incentivar e discutir formas de colocar em prática medidas que previam uma ruptura institucional após as eleições de 2022. Do outro, uma ala menos numerosa resistia às intenções antidemocráticas do ex-presidente.

Essa divisão foi exposta nos relatos dos ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes, do Exército, e Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica, tornados públicos na sexta-feira. Os dois disseram à PF fazer parte do segundo grupo, que demonstrou a Bolsonaro contrariedade em relação ao plano de reverter a vitória do presidente Lula nas urnas. Na versão apresentada por eles, o colega de farda Almir Garnier, ex-chefe da Marinha, engrossou o coro daqueles que defenderam um suposto golpe ao colocar à disposição as suas tropas para uma medida antidemocrática. Garnier ficou em silêncio em seu depoimento.

Uma das peças-chave dessa investida, segundo depoimentos e mensagens apreendidas pela PF, é o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e que foi vice na chapa de Bolsonaro à reeleição em 2022. Investigadores apontam o militar de quatro estrelas como responsável por estimular ataques contra colegas da caserna que resistiam à ofensiva golpista. Em uma delas, proferiu xingamentos a Freire Gomes, a quem chama de “cagão” após o ex-comandante do Exército se manifestar de forma contrária aos planos de Bolsonaro.

Braga Netto também é citado em depoimentos como quem intermediava os contatos do Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro se refugiou após a derrota eleitoral, com manifestantes acampados em frente a quartéis do Exército.

“Virar a mesa”

Outro militar com destaque nas Forças Armadas e que, segundo as investigações, flertou com o golpismo, foi o general da reserva Augusto Heleno. Vídeo de uma reunião ministerial no Palácio do Planalto, em julho de 2022, mostra o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) afirmando que se “tiver que virar a mesa é antes das eleições” e que era necessário agir “contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”.

Na lista de generais sob suspeita está ainda Paulo Sérgio Nogueira, que chefiou o Exército e foi ministro da Defesa no governo passado. Segundo a PF, o militar teria manipulado o relatório da pasta sobre o sistema eleitoral, postergando a divulgação depois que não foram identificadas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas.

A participação desses generais na suposta trama golpista só não é maior da exercida pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que firmou um acordo de delação premiada, homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O militar faz-tudo acompanhava os passos do ex-presidente, exercendo influência e municiando o ex-mandatário com “desinformação e ataques ao sistema eleitoral”, segundo a PF.

O avanço das investigações aponta que o grupo que insuflava um plano golpista era formado também por civis. O depoimento de Baptista Júnior, por exemplo, cita um suposto esforço da deputada Carla Zambelli (PL-SP) para convencê-lo a apoiar a quebra institucional. “Brigadeiro, o senhor não pode deixar o presidente Bolsonaro na mão”, disse ela, segundo trecho do depoimento do militar à PF. Em nota, a defesa da deputada afirmou que “jamais anuiria, pediria ou solicitaria algo irregular, imoral ou ilícito”.

Os depoimentos e indícios colhidos pela PF até o momento também indicam que duas alas inicialmente antagônicas no governo Bolsonaro, os militares e os chamados ideológicos, acabaram por se unir levar adiante um suposto plano antidemocrático. Um dos auxiliares mais radicas do entorno do ex-presidente, o ex-assessor especial da Presidência Filipe Martins é apontado como responsável por elaborar uma minuta de decreto golpista que, mais tarde, seria apresentada por Bolsonaro aos chefes militares, segundo o relato de Cid.

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