Segunda-feira, 20 de Outubro de 2025

Home em foco Ligação entre política e religião nas redes sociais enfraqueceu em 2023

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A mistura entre religião e poder político faz parte da história da humanidade e é transversal a inúmeras culturas. Eventualmente, há uma radicalização dos movimentos imbuídos na instrumentalização da fé, em favor de um projeto político ou de um candidato.

No Brasil, a ascensão bolsonarista foi ancorada no apoio de grupos pentecostais, inclusive com a apropriação, pelas campanhas eleitorais da direita, de termos antes restritos aos templos e aos meios de comunicação de massa usados pelas igrejas midiáticas para difundir seus dogmas.

Um estudo feito pela AP Exata Inteligência Digital durante o segundo turno das eleições de 2018 revelou que termos religiosos permearam praticamente todas as frentes da campanha de Jair Bolsonaro, abarcando áreas como educação, segurança, saúde, emprego e até transporte.

Enquanto Bolsonaro era associado a palavras como Jesus, Deus, Israel, Abraão, gênesis, Jacó, Inri, bíblia, cristianismo, Fernando Haddad disputou o segundo turno mais distante da seara cristã e, no máximo, era associado, pontualmente, aos termos Deus e Jesus. Um léxico nada amplo, perante todo um vocabulário específico adotado pela campanha que ajudou a alçar Bolsonaro ao poder e cunhou-lhe o discurso no exercício da Presidência.

Conservadorismo

As falas religiosas eram um esteio confortável para a esfera conservadora, em meio às inúmeras polêmicas e ao esticar de cordas do governo Bolsonaro. Mas a dinâmica da narrativa antissistema, os embates durante a pandemia, a inflação e os rompantes discursivos jogaram a religião dentro da arena de conflitos ideológicos.

As igrejas entraram no debate acalorado da política, o que gerou, também nessas instituições, os conflitos que marcaram o embate entre direita e esquerda, que dividiu famílias, amigos e, consequentemente, cristãos.

O pilar religioso do bolsonarismo deu ao ex-presidente a maioria expressiva dos votos evangélicos. Mas as lideranças religiosas parecem ter acendido a luz amarela após a vitória de Lula. Alguns entendem que, como diz a Bíblia, em Romanos 13:1, “todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas”. Outros simplesmente acham que os debates políticos não devem entrar na Casa de Deus.

O fato é que os termos religiosos estão menos presentes nas conversações políticas nas redes. Apesar de Bolsonaro e seus familiares seguirem na retórica cristã, ela já não avança tanto sobre os temas de Estado.

Análise

Os resultados de uma análise de 523 mil tuítes que falavam de Bolsonaro ou Lula e tinham também os termos “Deus” e “Jesus”, publicados nos oito primeiros meses deste ano, mostram que, até o dia 10 de janeiro, esses termos foram muito usados, concentrando 29% das menções a eles ao longo de todo período analisado. Nas primeiras semanas do ano, o Brasil se encontrava em um cenário pós eleição acirrado, que ficou ainda mais tumultuado com as invasões do 8 de janeiro. Já o mês de agosto abarcou apenas 0,5% das menções religiosas em posts políticos, no período do estudo.

O afastamento da narrativa religiosa nos posts sobre lideranças políticas começou a ficar mais claro a partir de abril. Naquele mês, a confiança nas publicações sobre Lula registrou um índice de 15,7%, um porcentual que foi aumentando gradativamente, chegando a 19,9%, em agosto. Paralelamente, os termos bíblicos foram ficando menos frequentes nos comentários políticos, o que indica que uma melhora da imagem do governo permite que algumas instituições tenham menos protagonismo na guerra narrativa da polarização.

O processo histórico nos mostra que a dissociação entre religião e política é algo praticamente impossível, mesmo em um Estado laico. Mas a fadiga da briga eleitoral nos dá sinais de que, também nas igrejas, a intoxicação do debate acirrado entre esquerda e direita começa a atenuar.

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