Domingo, 15 de Setembro de 2024

Home em foco Lula nega ter cancelado, por receio de repercussão negativa, jantar com príncipe saudita que deu joias a Bolsonaro

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou nesse sábado (24), em entrevista coletiva em Paris (França), o cancelamento de última hora do jantar com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, previsto para a noite de sexta-feira (23). O petista disse que a anulação do compromisso não foi por um eventual receio de repercussões negativas.

Acusado de ordenar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, o líder de facto da nação rica em petróleo deu em 2021 joias milionárias ao então presidente Jair Bolsonaro — peças que o governo da época tentou trazer ilegalmente para o Brasil e que hoje são alvo de investigação.

“Não pensei nisso”, afirmou. “Sabia de uma proposta de uma reunião com o príncipe da Arábia Saudita, que queria discutir investimento no Brasil. Eu simplesmente não tive condições de participar da reunião, e vou pedir para que o Itamaraty o convoque para ir ao Brasil discutir negócios com os empresários brasileiros.”

Lula disse, ainda, que tem interesse comercial no contato com o príncipe herdeiro.

“Temos muito interesse em que a Arábia Saudita faça investimentos no Brasil. Sobretudo na questão da transição energética, para a qual vamos apresentar um grande projeto neste mês de julho. Se a Arábia Saudita tiver interesse em investir no Brasil, pode ficar certo de que o Brasil terá interesse em conversar com a Arábia Saudita. Independentemente das polêmicas, não estou preocupado com as joias, isso não é comigo”, destacou.

Após afirmar que diferenças ideológicas não devem ser empecilho para a diplomacia, Lula tinha previsão de participar de um jantar em sua homenagem oferecido pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Citando “a agenda pesada dos últimos dias”, o presidente cancelou o jantar posteriormente.

Bin Salman, que está em uma cruzada para se reabilitar, receberia Lula e primeira-dama, Janja Lula da Silva, na residência oficial da Arábia Saudita em Paris. O compromisso encerraria a agenda de sexta do presidente, que teve como ponto alto sua participação na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, onde voltou a criticar os termos europeus para concluir o acordo entre União Europeia e Mercosul, fez outra defesa de desdolarização e criticou o sistema financeiro internacional.

Bin Salman está na França desde a semana passada, quando foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron no Eliseu. Ele tinha boas relações com o governo de Bolsonaro, para quem deu joias que a perícia da Receita Federal estimou neste mês custarem R$ 5 milhões.

O pacote, que supostamente seria para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, tinha um colar da marca com 2 mil diamantes que, sozinho, custa cerca de R$ 3,3 milhões. O relógio da marca Chopard foi avaliado em R$ 935, mil, e um anel cravejado com uma centena de brilhantes, em R$ 151,7 mil. Há também brincos de R$ 633 mil, todos dados à comitiva brasileira quando uma equipe do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ao Oriente Médio.

Um dos assessores do então ministro teria tentado entrar com as peças ilegalmente no Aeroporto de Guarulhos, sem declará-las à Receita. Elas, contudo, foram apreendidas, e foram ao menos quatro tentativas de tentar desbloqueá-las sem pagar altas tarifas.

Agenda 

A reunião com o príncipe saudita ocorreria dois dias após Lula se reunir com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, de extrema direita – encontro que foi confirmado de última hora, depois de o Itamaraty afirmar que as agendas divergentes inviabilizariam a bilateral. Questionado pela imprensa do país europeu sobre a opção de se sentar com alguém distante no espectro político, o petista disse que não cabe aos chefes de Estado escolher com quem negociar:

“Em nenhum país do mundo que eu visito, me preocupo com o pensamento ideológico do presidente. Enquanto chefe de Estado, estou conversando com outro chefe de Estado. É isso que eu levo em conta, porque ele foi eleito pelo seu povo e eu, pelo meu”, afirmou o petista. “Quando se trata de chefe de Estado, não existe nenhuma possibilidade de ter veto ideológico a qualquer pessoa.”

Durante esta visita à Europa, Lula encontrou-se também com o papa Francisco e com uma série de autoridades internacionais.

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