Segunda-feira, 04 de Agosto de 2025

Home Economia Mais pressão sobre os juros no Brasil: além dos gastos do governo, agora temos o tarifaço de Trump a adiar a queda da taxa

Compartilhe esta notícia:

Mais do que a manutenção da taxa de juros em 15% ao ano, que já era tida pelo mercado financeiro como uma aposta certa para a reunião de julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em seu mais recente comunicado, incluiu o tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, como mais um fator de adiamento de um ciclo de baixa da Selic.

Foi a primeira vez que o banco citou diretamente a “imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil” como justificativa para o aperto monetário, ao lado das já conhecidas preocupações com a situação fiscal e com o ritmo da economia, que dificultam que a inflação desça à meta de 3% ao ano.

Os sinais dados pelo BC são de que o corte de juros, diante do cenário atual, não virá tão cedo, o que é compreensível considerando que, apesar das recorrentes advertências do Copom, nada mudou na política de gastos do governo. A economia, por consequência, continua rodando acima de sua capacidade, o que pressiona a inflação – cujo controle é o principal objetivo do BC.

A queda nas expectativas para a inflação, que vem sendo constatada no boletim Focus, do BC, que reúne projeções dos bancos, nem sequer foi mencionada pelo Copom. Talvez porque, no cômputo geral, as projeções ainda são de uma taxa acima de 5,1% em 2025, 0,6 ponto porcentual além do teto tolerado.

Ou seja, nas entrelinhas, a autoridade monetária praticamente anulou a possibilidade de cortes nas próximas três decisões deste ano – em setembro, novembro e dezembro – por considerar que o nível de incerteza ainda é muito alto. Mas não disse isso com todas as letras, apenas afirmou, de maneira um tanto confusa, que o Copom “antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros” para observar se a Selic de 15% por tempo prolongado será suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.

Indicações de prudência nas contas públicas, com redução da gastança mesmo em face de pontuais aumentos de arrecadação, teriam, por certo, reflexo na política de juros do BC. Mas não é o que tem ocorrido. Ao contrário, teimosamente o presidente Lula da Silva mantém a política fiscal em perigoso descasamento da política monetária.

Poucos dias antes da reunião do Copom, contando com a expectativa de arrecadar mais no segundo semestre com a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e com o pré-sal, o governo anunciou a liberação de R$ 20,6 bilhões em gastos que haviam sido contingenciados em maio. O resultado é que, ao desequilíbrio doméstico, o BC somou o ambiente externo “mais adverso e incerto” em função dos EUA e optou pela austeridade.

O problema deve persistir, tendo em vista a aproximação do período eleitoral de 2026. O “horizonte relevante” com o qual o BC trabalha para trazer a inflação para perto da meta é o primeiro trimestre de 2027, já na próxima gestão federal, quando espera um IPCA de 3,4%.

Mais uma vez o banco afirmou que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, deixando no ar a possibilidade de mais aumento de juros. Mas somente a ata da reunião, esperada para a semana que vem, deverá trazer com mais clareza a posição do BC. (Opinião/O Estado de S. Paulo)

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Economia

“Tire as mãos do Brasil”: metalúrgicos protestam contra tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros
Tarifaço de Trump: quem paga pelas taxas e para onde vai o dinheiro
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Madrugada