Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Home Brasil Médico que lutou para trazer a Coronavac para o Brasil alerta para queda da cobertura vacinal de várias doenças e diz que é preciso coordenação para deter a varíola dos macacos

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O hematologista Dimas Covas foi um dos nomes mais importantes no combate à pandemia de covid no País. Lutou para trazer a Coronavac, a primeira vacina contra a doença aplicada no Brasil.

De uns tempos para cá, Covas passou a abraçar outras batalhas, como a recente disseminação da varíola dos macacos e da poliomielite e aponta caminhos para frear as doenças em território nacional.

1) Como estão as negociações do Instituto Butantan para fabricar a vacina da varíola dos macacos?

O Butantan já começou a se mobilizar para procurar parcerias no mundo no intuito de desenvolver e produzir essa vacina localmente, visto que o instituto produziu o imunizante da varíola no passado. Nós temos condição e local apropriado para receber a tecnologia necessária. Apesar das conversas serem iniciais, estamos em contato com organismos internacionais, como a NIH e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

2) Seria possível ter uma vacina nacional produzida ainda neste ano?

Não, mesmo que todo o ambiente fosse favorável, ainda teria que passar pela regulação, aprovação da Anvisa. Não há capacidade e velocidade para produção nacional este ano, quiçá, talvez, para o segundo semestre do ano que vem.

3) O governo anunciou que chegarão até setembro os 50 mil insumos da vacina contra a varíola, mas é um número extremamente baixo em comparação com a quantidade de pessoas que precisam ser vacinadas. Como o senhor enxerga essa relação?

Essas doses não seriam suficientes nem mesmo para vacinar os profissionais de saúde que eventualmente poderiam estar sendo preparados para enfrentar esse vírus se esses casos aumentarem muito. Ainda não há uma estratégia definida. É preciso ter um critério de discussão em quem essas vacinas poderão ser utilizadas. Se vão ser usadas em profissionais de saúde, ou pós-exposição para evitar casos mais graves. Essa estratégia e coordenação nacional certamente já deveriam estar prontas.

4) Em que aspectos o País tem que melhorar na prevenção da doença neste momento?

O aspecto educacional é fundamental agora. Temos de ter maior investimento na comunicação primária, de forma mais clara. Há duas informações primordiais: como é a transmissão e como é a contenção. Hoje nós sabemos que a doença nesse momento atinge principalmente a população de homens que fazem sexo com outros homens.

São orientações que devem ser feitas de forma cientifica, com o intuito de mostrar claramente quais são os riscos e as formas de se proteger. E isso não pode ser confundido com outras questões como o preconceito, ou de estigmatizar um comportamento. É comunicar claramente os riscos, o grupo que está em risco e como se prevenir.

5) O Brasil não demorou para tomar uma atitude nesse sentido?

O Brasil de uma certa maneira, assim como ocorreu com a pandemia de Covid, não teve uma coordenação. Os Estados em certo momento precisavam de uma ação minimamente coordenada e isso obviamente envolve a autoridade maior da saúde que é o próprio ministério. A Anvisa participou, tentou fazer a coordenação nos aspectos que lhe diz respeito, mas faltou uma ação maior por um membro superior. Cada Estado tomou um caminho próprio e muitos até com ações contrastantes. Óbvio, o País é continental heterogêneo, mas nessas situações e desafios é preciso ter uma coordenação, uma voz que fale: “vamos juntar todos e fazer dessa maneira”.

6) Os casos de poliomielite têm subido em diversos países no mundo pela baixa cobertura vacinal. Qual é a causa dessa queda na cobertura?

A cobertura além de ser baixa é heterogênea. Há Estados com coberturas baixíssimas, de 30% a 35%, e lugares, com taxas de 80%. Não só com a pólio ocorre isso.

Tivemos recentemente crise de sarampo em pessoas adultas, que é muito mais grave em relação ao aparecimento da doença em crianças. Isso é um grande problema que pode permitir o retorno de doenças já controladas. Entre as causas principais é o movimento das fake news, assim como os grupos antivacina. Eles têm ganhado força. É uma coisa que veio para ficar, não é uma onda, é algo que está se estabelecendo.

Não era algo habitual no Brasil, que sempre foi considerado um país exemplo em vacinação. Agora essa resistência ao imunizante ainda ganha respaldo de autoridades importantes da nação desconsiderando a importância das vacinas na prevenção das doenças de uma forma geral. É como se voltássemos aos anos 40, quando não tínhamos vacinas e as pessoas ficavam desesperadas esperando ter alguma solução.

A diferença é que nós temos e mesmo assim corremos o risco de ter a volta dessas doenças por falta de vacinação. A vacina não é uma proteção individual, é coletiva. As pessoas precisam ser vacinadas para que essas doenças não se disseminem.

Ideias individuais não podem ser permanentes, porque o prejuízo será de todos e não só das pessoas que têm essa opinião. Se todos cumprirem sua parte e se vacinarem, conseguimos erradicar muito dessas doenças, como já aconteceu com a varíola anos atrás.

 

 

 

 

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