Sexta-feira, 11 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de fevereiro de 2022
“Cepa de Deus”, “vírus vacinal” e “presente de Natal antecipado” foram alguns dos termos usados para descrever a variante ômicron do SARS-CoV-2 no fim de 2021, quando ela foi identificada na África do Sul.
Estudos têm sugerido que essa linhagem do novo coronavírus é de fato menos agressiva que as anteriores, entre outros fatores, por ter uma capacidade menor de invadir o tecido pulmonar. Por outro lado, a maior afinidade com as células das vias aéreas superiores parece ter conferido à ômicron um poder de disseminação que tem sido comparado ao do sarampo – um dos patógenos mais contagiosos já descritos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ômicron contamina cem pessoas a cada três segundos no mundo. No Brasil isso tem se refletido em recordes sucessivos de casos diários de covid.
Para especialistas ouvidos pela Agência Fapesp, o fato de o número de internações e mortes por covid não estar crescendo na mesma proporção deve-se mais à imunidade prévia da população – seja pela vacinação ou por infecções anteriores – do que às características intrínsecas do vírus.
“Nos indivíduos não vacinados a doença não é tão leve, podendo causar óbitos e lesões importantes. A questão é que esse vírus tem encontrado um hospedeiro diferente, que já não é virgem de exposição”, afirma o médico Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Esta também é a opinião de Elnara Negri, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. “É uma variante muito parecida com as anteriores. A questão é que no Brasil a gente tem a felicidade de ter uma população com uma boa cobertura vacinal. O único paciente que precisei intubar nesta onda, até o momento, não era imunizado. E ele desenvolveu uma pneumonia por SARS-CoV-2 com trombose de microcirculação clássica. Na grande maioria dos atendidos, a doença teve um curso bom e considero a vacina a grande responsável”, diz.
Em parceria com os colegas do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, entre eles Saldiva, Negri foi uma das primeiras pessoas no mundo a levantar a hipótese de que distúrbios de coagulação sanguínea estariam na base dos sintomas mais graves da covid – entre eles insuficiência respiratória e fibrose pulmonar. Ela ressalta que mesmo entre pessoas vacinadas, principalmente em idosos e indivíduos com comorbidades, a ômicron pode causar coagulopatia.
O infectologista Esper Kallás destaca que nos locais em que a cobertura vacinal é mais baixa o número de hospitalizados por pela doença tem aumentado de forma significativa.
Um exemplo é o Distrito Federal, onde a taxa de ocupação dos leitos nas unidades de terapia intensiva (UTIs) atingiu novamente 100%. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do DF, 90% dos internados por covid não se vacinaram ou estão com a imunização incompleta.
Em outros seis Estados – Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte – a ocupação nas UTIs está acima de 80%. No caso das UTIs pediátricas a situação já é crítica em pelo menos três estados: Mato Grosso do Sul, Maranhão e Rio Grande do Norte.
Voo às cegas
Os especialistas consultados pela reportagem afirmam que a escassez de testes para diagnóstico e o apagão de dados no Ministério da Saúde – causado por um ataque cibernético ocorrido no dia 10 de dezembro – têm dificultado avaliar com precisão como a onda da ômicron está evoluindo no País.
“A gente está meio perdido em relação à taxa de letalidade, por exemplo, que é uma informação importantíssima e que pode ajudar a convencer as pessoas a se vacinar”, diz Saldiva.
Segundo o pesquisador, o problema também é reflexo do baixo investimento em vigilância epidemiológica nos Estados. “No auge da pandemia, a falta de recursos humanos foi suprida aqui no estado de São Paulo pela comunidade acadêmica, que trabalhou de forma voluntária. Mas as equipes agora se desmobilizaram”, conta.
Estimativas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, apontam que o Brasil pode atingir o pico de 1,3 milhão de infectados por dia pela covid em meados de fevereiro. As projeções incluem não só casos positivos confirmados, mas também estimativas de quem se infectou e nem chegou a testar.
No Ar: Pampa Na Madrugada