Sábado, 06 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 6 de setembro de 2025
O anúncio da Medida Provisória (MP) do governo federal que prevê um pacote de socorro de R$ 12 bilhões aos produtores rurais endividados não acalmou os ânimos das centenas de integrantes da categoria que lotaram parte da arquibancada da pista central do Parque de Esteio, nessa sexta-feira (5), para a abertura oficial da Expointer. Houve vaias ao governador gaúcho Eduardo Leite e aos ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).
Leite protagonizou o confronto mais duro com os manifestantes. Ele disse que o movimento dos agricultores é legítimo, mas que a reivindicação justa dos produtores estava sofrendo uma “captura política que não colabora com a luta justa”. Ele acrescentou: “A dor dos nossos produtores é real, mas não pode ficar ofuscada por interesses eleitorais”.
Na mesma fala, o chefe do Executivo do Rio Grande do Sul também mencionou o fato de já ter recebido vaias desde quando era vereador em Pelotas (Região Sul), mas que isso nunca o impediu de vencer as disputas eleitorais e avançar na carreira política. Mas encerrou destacando que, apesar do contexto político, as demandas por soluções são justas.
Os protestos pediam medidas urgentes para solucionar a crise do endividamento dos agricultores gaúchos, em função de contínuas quebras de safras nos últimos anos por estiagens e enchentes. Dentre as palavras-de-ordem estavam “securitização já” e “queremos solução”.
Além disso, os manifestantes colocaram na pista central – onde foi realizado ocorreu o desfile dos campeões da Expointer – coroas de flores e balões pretos. O objetivo era lembrar aos produtores rurais que teriam cometido suicídio por causa de endividamento.
Ministros
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sofreu vaias durante quase todo seu discurso. Apesar de ter destacado a MP de socorro de R$ 12 bilhões, anunciada mais cedo pelo presidente Lula nas redes sociais, os produtores não pouparam o ministro, gritando “não é suficiente”. Fávaro afirmou que compreendia o momento difícil vivido pelo agronegócio gaúcho:
“Eu me solidarizo com as famílias que não suportaram esse momento”, destacando a lembrança dos produtores que tiraram a própria vida devido às dívidas. No entanto, ele ficou visivelmente incomodado com o protesto realizado no local. “O povo gaúcho é de respeito, e quando se perde respeito se perde a razão”, afirmou.
Também muito vaiado, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, fez uma provocação aos manifestantes. Disse que “as vaias são próprias da democracia. Se tivesse ocorrido o golpe em 8 de janeiro, talvez não poderíamos estar aqui vaiando hoje”.
Teixeira afirmou que a nova MP do governo deve atender 95% dos produtores integrantes do Pronaf e do Pronamp, além de 85% dos demais. “Temos certeza que não estamos resolvendo todos os problemas, mas é o esforço possível da sociedade brasileira”, disse.
A proposta do governo prevê um pacote de socorro de R$ 12 bilhões aos produtores endividados, com prazo de nove anos para pagamento e dois anos de carência. Os valores poderão ser revistos em 2026. Os juros subsidiados serão de 6% para produtores enquadrados no Pronaf (com limite de R$ 250 mil por CPF); 6% para Pronamp (com teto de R$ 1,5 milhão); e 10% para demais produtores (com limite individual de R$ 3 milhões).
A medida vale para produtores com duas perdas de safra nos últimos cinco anos, em municípios que decretaram calamidade duas vezes. Expectativa do governo é de que o benefício atenda a 100 mil produtores rurais.
Segundo levantamento da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), 65 mil produtores rurais gaúchos somam dívidas de R$ 27,4 bilhões junto às principais instituições financeiras que operam crédito rural no Estado (Banco do Brasil, Sicredi e Banrisul).
(Marcello Campos)
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