Segunda-feira, 01 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 31 de agosto de 2025
Uma das principais descobertas da megaoperação da Polícia Federal e Ministério Público foi o grau de envolvimento da facção criminosa PCC na adulteração de combustíveis. O grupo tinha um complexo esquema de importação de metanol para misturar na composição de gasolina e etanol.
Parte do esquema promovia adulteração de combustíveis com metanol (CH₃OH), substância altamente inflamável, tóxica e de difícil identificação. O produto é um tipo de álcool simples, incolor e inflamável, com cheiro semelhante ao da bebida alcoólica comum.
O metanol já foi chamado de “álcool da madeira”, porque antigamente era obtido pela destilação de toras. Hoje, sua produção industrial é feita principalmente a partir do gás natural.
Embora seja usado em pequenas quantidades na natureza, podendo ser encontrado em frutas, vegetais e até produzido pelo corpo humano em baixíssimas doses, o metanol é altamente tóxico em concentrações elevadas.
Além disso, a dissolução dele nos combustíveis é de difícil detecção. “O metanol tem alta capacidade de combustão, a água não. Além disso, nos testes a água separa totalmente do combustível, o metanol não”, explica Tenório Júnior, técnico e professor de mecânica automotiva.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) até permite um limite máximo de 0,5% na mistura, mas a investigação mostra que o percentual chegava a até 90% em alguns postos.
De acordo com Ricardo Abreu, engenheiro mecânico e consultor de mobilidade sustentável para a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), a ANP permite a presença porque ele pode ser um subproduto do processo de produção do etanol, mas não deve ser adicionado.
Utilidade
O metanol tem diversas aplicações legítimas na indústria. Ele é usado na fabricação de formaldeído (o famoso formol), ácido acético, tintas, solventes e plásticos, e está presente em produtos como anticongelantes, limpa-vidros e removedores de tinta. Também já foi utilizado como combustível em carros de corrida e pequenos motores, mas em condições seguras e controladas.
No Brasil, uma das principais funções do metanol é servir de matéria-prima para a produção de biodiesel, em um processo químico chamado de transesterificação. Fora disso, ele não deve ser comercializado diretamente para consumo humano ou adicionado em grande escala a combustíveis comuns.
Riscos
Segundo especialistas, a presença de metanol em excesso na gasolina ou no etanol adulterado multiplica os perigos: além de enganar o consumidor, pode levar a falhas mecânicas graves e colocar motoristas e passageiros em risco de acidentes.
Dentre os riscos para o carro estão:
• Superaquecimento do motor: quando um veículo calibrado para etanol recebe metanol, a mistura de combustão se torna “pobre”, faltando combustível. A chama fica muito lenta, fazendo com que a energia se transforme em calor, causando problema de superaquecimento, podendo queimar válvulas e derreter a vela de ignição.
• Corrosão e ataque a componentes: o metanol é altamente corrosivo e ataca materiais plásticos e borrachas. “Os problemas são mais graves de corrosão, os problemas de ataque a borracha, permeabilidade”, afirma Abreu. Isso acaba por exigir a substituição de diversos materiais em tubulações e tanques.
• Maior poluição: a combustão inadequada do metanol resulta em um nível de poluentes maior que o etanol.
• Toxicidade ambiental: em caso de derramamento, o metanol penetra rapidamente na terra e atinge o lençol freático, contaminando a água.
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