Terça-feira, 12 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 28 de outubro de 2021
O mundo pode enfrentar um cenário de estagflação nos próximo anos, alertou o professor emérito da Stern School of Business da Universidade de Nova York e CEO da Roubini Macro Associates, Nouriel Roubini, durante evento da Anbima. O economista americano ganhou fama nos anos 2000 e ficou conhecido como “doutor catástrofe” por suas previsões pessimistas sobre os rumos dos mercados.
Na visão do especialista, ainda que as principais economias globais tenham mostrado uma recuperação em “V” até a metade deste ano, “infelizmente, neste momento, a recuperação começou a estagnar no mundo todo”. Roubini avalia que os países estão prestes a entrar em uma era de inflação elevada com crescimento baixo ou recessão.
“Houve um afrouxamento maciço na política monetária tanto nas economias avançadas quanto nos mercados emergentes”, explicou o economista. “Mas muitos emergentes enfrentam problemas de depreciação cambial, inflação alta e tiveram de reagir à alta dos preços elevando os juros, mesmo que isso prejudique a recuperação econômica.”
O professor da Universidade de Nova York projetou um futuro desafiador em termos macroeconômicos. “Eu sou pessimista e acredito que vamos ver um aumento significativo da inflação nos próximos anos mesmo nos EUA, e então a era da grande moderação está terminada.”
Conforme o especialista, a combinação de políticas monetárias e fiscais extremamente frouxas com uma série de choques negativos de oferta pode resultar em um cenário de estagflação – inflação em alta com recessão – parecido com o ocorrido nos anos 1970. “Por que temos de nos preocupar com inflação e estagflação? Um dos motivos é que o tamanho da dívida decolou no mundo inteiro”, pontuou.
De acordo com o economista, nos anos 1970, a proporção da dívida global em relação ao PIB mundial alcançava 100%. Nos anos 2000, a taxa era de 200%. E antes da pandemia, cerca de 360% do PIB global. Hoje, nas economias avançadas, a relação subiu para 420%.
Esse cenário de agigantamento das dívidas públicas e privadas, somado às maciças injeções de estímulos com pacotes fiscais e políticas monetárias nada ortodoxas, além de choques de oferta em todo o mundo, cria um ambiente favorável para alimentar a inflação.
“Os governos terão de gastar mais, mas aumentar impostos é politicamente difícil, e, nas economias avançadas, os bancos centrais tiveram de monetizar grandes déficits fiscais. Isso significa que os BCs estão em uma armadilha da dívida. Se a inflação sobe, vão tentar subir juros, mas isso pode levar a um ‘crash’ nos mercados de renda fixa e acionários.”
As políticas monetárias e fiscais muito frouxas têm causado bolhas em ativos, ao mesmo tempo que a inflação de bens sobe em todo o mundo, citou Roubini. “Esse é o lado da demanda, entretanto há também ameaças no lado da oferta”, avaliou.
Na análise do economista, “há gargalos de oferta em vários setores”, o que também pressiona a inflação globalmente. “Vimos esse cenário nos anos 1970, com choques que acabaram levando à inflação e estagflação.”
As mudanças demográficas também se somam aos fatores que vão pressionar os preços daqui para a frente. “Há um envelhecimento da população em países chaves como EUA e Japão, mas isso ocorre também na China, Rússia, Coreia e partes da Ásia”, disse.
“Quando há muitos jovens, eles produzem e poupam, então, desse modo, o envelhecimento da população leva a aumento de demanda e de inflação.” Conforme o economista, “no passado a imigração compensava o envelhecimento, porque com muitos imigrantes era possível manter a inflação de salários baixa”.
Em um recado aos investidores, Roubini criticou as criptomoedas. Em um cenário de alta inflação, divisas digitais não são a melhor forma de enfrentar um ambiente de escalada de preços, afirmou. “Há quem esteja eufórico com criptomoedas e o bitcoin, mas eu prefiro ouro e bens imobiliários, além de títulos indexados à inflação.” De acordo com economista, “chamar criptos de moedas é um erro”.
No Ar: Pampa Na Tarde