Domingo, 09 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de novembro de 2025
Enquanto muitos se preocupam com os holofotes, os eventos suntuosos e os jantares de gala que cercam a COP30, minha missão aqui é outra. Não vim atrás de luxo, nem de protagonismo. Vim com o apoio financeiro de amigos e apoiadores da causa ambiental e energética, movido por um propósito maior: honrar a memória de José Lutzenberger, o gaúcho que foi pioneiro na consciência ecológica no Brasil e que, muito antes de a crise climática se tornar manchete, já alertava sobre os limites da Terra e a urgência de respeitá-la.
Chego a Belém como membro voluntário da Fundação Gaia, instituição que carrega o legado de Lutzenberger e que mantém vivo o seu sonho no Rincão Gaia, espaço que ele idealizou com suas próprias mãos e onde hoje repousa, como desejava — em comunhão com o solo, com os ciclos da vida, com o espírito da Teoria de Gaia, que nos ensina que a Terra é um organismo vivo, interconectado, onde cada ser e cada elemento participa de um equilíbrio dinâmico e sagrado.
Durante a COP30, terei a honra de coordenar um debate sobre o legado de Lutzenberger e participar do lançamento de um documentário chamada “Sociedade Regenerativa” filmado no Rincão Gaia, que mostra como sua visão permanece atual, urgente e inspiradora. Mais do que uma homenagem, é um chamado à ação.
Encontros que fortalecem
Além do compromisso institucional, venho também para reencontrar amigos e aliados nessa jornada. Entre eles, lideranças indígenas que resistem e ensinam, e Angela Mendes, filha de Chico Mendes, que vive no Acre e com quem troquei mensagens nos últimos tempos. Sua presença é símbolo da continuidade de uma luta que não se encerrou com a morte de seu pai — pelo contrário, se multiplicou em vozes, territórios e esperanças.
E há um reencontro especial: ficarei hospedado na casa de Claitom Moreira e sua família, meu grande e eterno amigo desde os tempos das fraldas. Foi ele quem me apresentou ao povo paraense, e foi no Pará que tudo começou — onde tive as primeiras intuições em um momento de muita dificuldade sobre que rumo daria à minha vida. Voltar a Belém é, portanto, retornar às raízes de minha consciência ambiental, ao lugar onde a Terra me falou pela primeira vez.
O que está em jogo
A COP30 acontece em um momento crítico. O mundo precisa decidir se vai continuar adiando compromissos ou se vai finalmente agir. As NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) precisam ser mais ambiciosas. O financiamento climático precisa chegar ao Sul Global, onde estão as florestas, os povos que menos poluíram e os que mais sofrerão com os impactos da crise.
O Brasil, ao sediar a COP30 em Belém, tem a chance de se afirmar como potência verde. Mas isso exige coerência, coragem e compromisso. Não basta o discurso. É preciso escutar os povos da floresta, os cientistas, os jovens, os agricultores, os educadores — todos que já estão fazendo a transição acontecer, mesmo sem apoio, mesmo sem holofotes.
Uma mensagem para o agora
A COP30 é mais do que uma conferência. É um espelho. E o que ele reflete depende de nós. Podemos escolher ver apenas os problemas, os escândalos, os excessos. Ou podemos escolher ver a oportunidade, o encontro, o chamado.
Eu escolho ver a Terra. Escolho ouvir Lutzenberger, Chico Mendes, Angela, os povos originários, os jovens que ainda ousam sonhar. Escolho acreditar que a mudança começa quando deixamos de ver a Terra como cenário e passamos a vê-la como protagonista.
E é por isso que estou aqui. Para somar. Para aprender. Para agir.
Agora já estou em terras da Amazônia. E convido você a acompanhar minha coluna no jornal O SUL, onde diariamente trarei minhas impressões direto de onde tudo está acontecendo. Vamos juntos entrar nessa corrente de ação. Porque o tempo de agir é agora — e a Terra está esperando por nós.
Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética