Quarta-feira, 13 de Agosto de 2025

Home Variedades Não há prova de que jejuar por 72 horas regenere órgãos; prática é arriscada para a saúde

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Anda circulando pelas redes sociais um post que alega que jejuar por 72 horas elimina inflamações e toxinas e regenera órgãos a partir do processo de autofagia. A publicação afirma que se trata de um processo natural reconhecido por cientistas e por um vencedor do prêmio Nobel.

A autofagia é um processo celular natural importante para a manutenção da saúde. Mas não há há comprovação científica de que jejuar por três dias seja recomendado para induzir esse mecanismo ou mesmo que seja seguro para a saúde.

Especialistas informaram não haver comprovação científica de que a privação alimentar possa curar inflamações, eliminar toxinas ou regenerar órgãos em seres humanos.

O vencedor do prêmio Nobel com um trabalho sobre autofagia estudou esse processo em leveduras e não se debruçou sobre os resultados de jejum prolongado em humanos. Longos períodos sem alimentação podem acarretar riscos como perda de massa muscular, hipoglicemia e alterações de humor.

O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), diz que os estudos científicos sobre os benefícios da privação de nutrientes a longo prazo e de forma frequente são limitados. O que se sabe, até o momento, é que o jejum intermitente pode ter efeitos anti-inflamatórios moderados. Esse entendimento carece de investigação aprofundada. “Faltam evidências científicas suficientes para se recomendar este tipo de conduta”, disse.

Filho ressalta que manter um jejum prolongado de 72 horas pode trazer riscos à saúde, especialmente se feito sem acompanhamento médico. O nutrólogo cita a existência de estudos demonstrando que a prática pode causar perda de massa muscular, queda de pressão, hipoglicemia e alterações de humor.

A nutricionista Fabiana Poltronieri, doutora em Ciência dos Alimentos e diretora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), fala que, em longas privações de nutrientes, o organismo começa a usar não só a reserva de energia para manter o corpo funcionando, como também ativa outros sistemas.

“O indivíduo pode ter taquicardia, dor de cabeça, tontura, problemas para realizar as atividades comuns do dia-a-dia que dependam de atenção e um risco de se desidratar”, diz. O ser humano não se hidrata apenas quando consome líquidos, mas também quando come alimentos como frutas e verduras.

O ser humano pode ficar 72 horas em jejum, mas em situações específicas, como, por exemplo, em uma condição de doença e acompanhada de um médico, nutricionista ou enfermeiro. “Talvez haja uma situação em que a pessoa precise ficar em jejum por esse período. Mas ela não fica totalmente sem se alimentar porque vai receber hidratação por soro e talvez esteja recebendo alimentação por outras vias”.

O que é a autofagia citada no post?

A autofagia, palavra proveniente do grego que significa “comer a si mesmo”, é um processo de reciclagem que ocorre dentro das células humanas. Componentes danificados ou desnecessários são degradados e reutilizados.

Fabiana Poltronieri diz que isso acontece a todo momento. Associar o mecanismo à uma regeneração voluntária dos órgãos é sensacionalista. “O fato de eu conseguir destruir uma célula e criar outra, o que no organismo acontece todo dia, está relacionado com a regeneração celular, mas não há uma relação direta com algo que eu faço agora (como jejum)”, falou.

Poltronieri fala que não há prova de que viver com o organismo exposto ao estresse de não se alimentar aumentaria a autofagia de forma benéfica.

Durval Filho acrescenta que a maior parte dos estudos sobre esse fenômeno foram realizados em animais ou in vitro, sem resultados definitivos em humanos.

Ele explica que estudos com tecidos humanos, por exemplo, confirmam que a autofagia está presente e funciona em várias células humanas. Há, ainda, evidências científicas iniciais que relatam a promoção da regeneração de células imunológicas, estimulação da autofagia e redução de marcadores inflamatórios. No entanto, ainda não é possível afirmar que isso seja suficiente para eliminar toxinas ou regenerar órgãos.

Segundo o médico, existem também pesquisas clínicas sendo realizadas para checar possíveis formas de manipulação da autofagia, direcionadas para prevenção e até tratamentos de doenças. Esses estudos ainda não foram concluídos.

 

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