Sexta-feira, 10 de Outubro de 2025

Home Mundo Nobel de Literatura premia o húngaro László Krasznahorkai, autor do diabólico “Sátántangó”

Compartilhe esta notícia:

O romancista húngaro László Krasznahorkai é o vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2025, anunciado na manhã dessa quinta-feira (9) pela Academia Sueca.

Um dos autores mais celebrados da literatura contemporânea, Krasznahorkai é conhecido por seu estilo denso e obsessivo, em livros que dão pouco respiro aos leitores. O autor explora temas como desesperança, decadência e alienação com frases longas e cadenciadas.

Segundo o anúncio do Nobel, a obra “visionária e envolvente” do húngaro “reafirma o poder da arte em meio ao terror apocalíptico”. “O olhar artístico de Krasznahorkai, totalmente livre de ilusões e capaz de enxergar através da fragilidade da ordem social, combinado com sua crença inabalável no poder da arte, motivou a academia a conceder a ele esse prêmio.”

No Brasil, seu único livro disponível saiu pela Companhia das Letras há três anos – é “Sátántangó”, romance lançado originalmente em 1985 e tido como sua obra-prima. Virou também um filme referencial, um longa-metragem de mais de sete horas de duração dirigido pelo também húngaro Béla Tarr, com quem realizou mais cinco filmes.

A obra de estreia de Krasznahorkai, que já foi traduzida como “o tango de Satã”, gira em torno de um protagonista mis terioso que pode ser uma espécie de profeta, um mero vagabundo ou o próprio demônio.

Ele chega a uma aldeia lotada de pessoas desajustadas que o recebem entre bebedeiras e discussões caóticas, num enredo que espirala em tons apocalípticos e se passa logo antes da queda do comunismo na Hungria.

A Companhia promete já para os próximos meses a publicação de outro romance do autor, “O Retorno do Barão Wenckheim”, sobre um homem que retorna a sua pequena cidade natal ao fim da vida.

A tradução do húngaro será de Zsuzsanna Spiry, após “Satántangó” ter sido vertido ao português por Paulo Schiller – que venceu o prêmio da Biblioteca Nacional pela tradução e define Krasznahorkai como “o Guimarães Rosa húngaro”.

O lançamento internacional mais recente do autor é “Herscht 07769”, obra de mais de 400 páginas escrita em uma única frase do início ao fim, sem pontuação. O livro também já foi arrematado para sair pela editora.

László Krasznahorkai, cujo nome se pronuncia “láslo crasnarrorcaí”, venceu o prêmio Booker Internacional pelo conjunto da obra em 2015. A pronúncia de seu livro mais famoso, no húngaro original, é “xatantangô”.

Atualmente, o autor de 71 anos vive recluso nas colinas de Szentlászló, em seu país natal. O escritor nasceu numa cidadezinha a sudeste da Hungria, parecida com a vila em que se ambienta “Sátántango”.

Foi criado sob o regime comunista e só saiu do país pela primeira vez aos 33 anos. Estudou direito e letras na universidade em Budapeste, tendo escrito sua tese sobre a obra de Sándor Márai feita após seu exílio.

Seu segundo livro, o consagrado “Melancolia da Resistência”, de 1989, também é carregado de um tom de fim de mundo, dessa vez num circo macabro onde há apenas o esqueleto de uma baleia.

O comitê do Nobel sublinhou que as obras de Krasznahorkai são repletas de “cenas de pesadelo e caracterizações grotescas”, que se desdobram para revelar “o conflito brutal entre a ordem e a desordem” e, assim, aproximar a beleza do horror.

O projeto literário do autor é marcado por épicos de musicalidade sombria, como bem retratado no filme de Tárr, no estilo burlesco típico do leste europeu em que o som melancólico embala danças desesperadas —mas, ainda assim, danças.

O estilo absurdista do autor foi comparado pelo porta-voz do Nobel a dois dos maiores expoentes da literatura em alemão do século 20, Franz Kafka e Thomas Bernhard – aliás, dois autores que nunca ganharam o Nobel.

O húngaro foi um raro autor favorito ao maior reconhecimento literário do mundo que, de fato, se confirmou como o vencedor. Seu nome já vinha ocupando o topo das bolsas de apostas por um motivo algo banal —o prêmio vinha se alternando, nos últimos anos, entre um homem e uma mulher.

Além disso, europeus têm vantagem histórica sobre competidores de outros continentes, já que o comitê do Nobel costuma fazer pouco esforço para olhar além de suas fronteiras.

Uma exceção à regra aconteceu no ano passado, quando Han Kang se tornou a primeira pessoa sul-coreana a ganhar o troféu na história. Antes, foi a vez do norueguês Jon Fosse, que sucedeu a francesa Annie Ernaux.

Mesmo autores nascidos fora da Europa, como os recentes vencedores Abdulrazak Gurnah e Kazuo Ishiguro, costumam fazer carreira no continente e escrever em línguas da região, como o inglês.

“Estou profundamente feliz por ter recebido o Nobel – sobretudo porque esta premiação significa que a literatura existe por si só, para além de uma série de expectativas não literárias, e que ela ainda é lida”, disse Krasznahorkai em nota enviada à imprensa.

“E, para aqueles que a leem, oferece uma certa esperança de que a beleza, a nobreza e o sublime ainda podem existir de modo independente. Talvez ofereça esperança até mesmo àqueles nos quais a própria vida mal se manifesta. Confie – mesmo quando não pareça haver motivo para isso.”

Cada vencedor do Nobel recebe 11 milhões de coroas suecas, um valor hoje equivalente a R$ 5,83 milhões.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Mundo

Israel aprova acordo de paz com Hamas, e cessar-fogo deve ter início em até 24 horas
Líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado é a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play
Ocultar
Fechar
Clique no botão acima para ouvir ao vivo
Volume

No Ar: Programa Show de Notícias