Sexta-feira, 20 de Junho de 2025

Home Economia Nova alta da Selic reflete posição cautelosa do Banco Central

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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), de elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto para 15% não chegou a ser surpresa. É o sétimo aumento consecutivo desde setembro. Por certo a inflação medida pelo IPCA desacelerou em maio, recuando 0,17 ponto percentual para 0,26%. Em abril, o ritmo da atividade econômica registrou retração de 0,4% em relação a março, segundo indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV), maior queda mensal desde outubro de 2024. Mas, apesar desses sinais, o desemprego, em 6,6%, segue baixo, sem variação significativa. A produção industrial registrou queda, mas o setor de serviços segue aquecido. Desde março, a previsão de analistas para o IPCA de 2026 está estacionada em 4,50%, teto da meta. Por tudo isso prevaleceu, na reunião do Copom, a posição mais cautelosa, segundo a qual a intensidade do aperto monetário precisava aumentar para manter a inflação sob controle.

A situação externa é também preocupante, com a guerra tarifária deflagrada por Donald Trump e o conflito entre Israel e Irã. Até o momento, a alta no barril do petróleo foi tímida, e o dólar tem perdido valor ante o real. Mas tudo pode mudar rapidamente. Os bombardeios no Oriente Médio não afetaram até agora o transporte de petróleo do Golfo Pérsico. Mas o risco é concreto. Cerca de 21 milhões de barris de Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos (um terço do transporte marítimo global de óleo) passam diariamente pelo Estreito de Ormuz. Embora a chance de o Irã fechá-lo seja baixa, é uma possibilidade que não pode ser descartada. Na eventualidade de alta expressiva do petróleo, a capacidade da Petrobras de adiar remarcações no preço dos combustíveis será limitada.

Desde que começou a ventilar e a pôr em prática suas teses protecionistas, Trump tem protagonizado inúmeros vaivéns na política tarifária. As previsões mais catastrofistas para a economia global podem não se realizar, mas é difícil acreditar que o efeito será inócuo. Em maio, as vendas no varejo americano caíram 0,9% em relação a abril, maior queda em dois anos. Nesta quarta-feira, o banco central americano, o Fed, manteve os juros em 4,5%, sem dar ouvidos aos pedidos de Trump por cortes. Suas trapalhadas têm puxado o dólar para baixo e, dada a diferença entre os juros no Brasil e noutras economias, o real vem se valorizando. Esse desenlace positivo não elimina o perigo de qualquer desaceleração mundial acarretar danos por aqui.

Sem grandes sobressaltos à frente, o atual ciclo de aperto monetário pode ter chegado ao pico com a alta da Selic desta quarta-feira. Saber com exatidão por quanto tempo esse patamar será mantido ainda é motivo de debate. Enquanto o governo não conseguir debelar a crise fiscal por meio de um programa robusto e confiável de controle de gastos, persistirão dúvidas sobre sua credibilidade. Isso naturalmente leva os investidores a exigir retorno maior para lhe emprestar dinheiro — portanto, um juro maior. A sensação, em razão disso, é que a Selic ainda permanecerá um bom tempo nas alturas. (Opinião/O Globo)

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