Terça-feira, 30 de Setembro de 2025

Home Você viu? Nova teoria ajuda a explicar – e até evitar – turbulência em aviões

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Bjorn Birnir tem pavor de um colega de assento no avião perguntando o que ele faz da vida. Isso porque Birnir é um dos maiores estudiosos do mundo da turbulência, o movimento caótico de fluidos, como água ou ar, em meio a uma perturbação. Inevitavelmente, a única pergunta que ele teme aparece: afinal, quão perigosa é a turbulência?

Hoje em dia, essa dúvida é feita com frequência pelos três milhões de passageiros que embarcam e desembarcam diariamente em aeroportos americanos. Antes vista como um incômodo secundário da aviação comercial, como comida ruim ou pouco espaço, a turbulência severa só piora. Em 2023, pesquisadores britânicos concluíram que a turbulência em ar limpo sobre o Atlântico Norte aumentou 55% entre 1979 e 2020. Esse tipo é especialmente difícil de prever, pois ocorre fora de tempestades ou montanhas.

“Pensei muitas vezes que seria maravilhoso se pudéssemos tornar as viagens aéreas um pouco mais agradáveis”, disse Birnir, diretor do Centro de Ciências Complexas e Não Lineares da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Sua contribuição mais recente foi um artigo publicado na revista *Physical Review Research*, que apresentou, segundo ele, o modelo mais avançado de movimento turbulento. O trabalho pode ajudar engenheiros a projetar aeronaves mais seguras e a aprimorar modelos meteorológicos.

“O design de aeronaves será beneficiado. Definitivamente veremos modelos melhores”, afirmou. Para Thomas Q. Carney, professor aposentado da Universidade Purdue e piloto com 11 mil horas de voo, quanto mais fiel for o modelo ao campo turbulento, melhor será a previsão usada pelos comandantes.

Voar nos EUA segue excepcionalmente seguro, mas episódios recentes afetam a confiança. Um relatório preliminar apontou que, em julho, um voo da Delta sofreu forte turbulência sobre Wyoming, ferindo passageiros. Os pilotos tentaram desviar do mau tempo, mas foram surpreendidos por correntes agitadas. Cientistas avaliam que as mudanças climáticas, ao aquecer a atmosfera, também podem aumentar o problema.

A turbulência intriga especialistas há décadas. Richard Feynman, Nobel de Física, a chamou de “o problema não resolvido mais importante da física clássica”. Para Patrick Smith, autor do site *Ask the Pilot*, “um dos motivos é que a turbulência se baseia em muitos elementos móveis — temperatura, pressão, vento. As condições podem mudar muito rápido”. Tanner Harms, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, reforça: “A definição de caos está quase intrínseca à própria turbulência”.

Para organizar esse caos, Birnir trabalhou com Luiza Angheluta-Bauer, da Universidade de Oslo, unindo duas abordagens: a lagrangiana, que observa partículas em movimento, e a euleriana, que observa pontos fixos. “Essa partícula isolada executará o movimento mais complexo que se possa imaginar”, disse Birnir. Segundo Tomek Jaroslawski, da Universidade Stanford, “mesma turbulência, histórias diferentes. Nenhuma das visões está errada”. O estudo uniu métodos estatísticos e teóricos, chegando a um modelo considerado inédito. “O resultado é inédito, não há dúvida”, avaliou Katepalli Sreenivasan, da Universidade de Nova York. J. Doyne Farmer, da Universidade de Oxford, completou: “A turbulência totalmente desenvolvida é onde as coisas ficam simplesmente loucas”.

Birnir acredita que o episódio da Delta seja exemplo de intermitência severa euleriana e defende que modelos mais detalhados poderiam permitir medidas preventivas, como reduzir a potência dos motores. Carney, da Purdue, reconheceu que parte do trabalho está além da compreensão de pilotos comuns, mas ressaltou: “Estou confiante de que eles estão contribuindo para o avanço do conhecimento”.

(Com O Globo)

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