Sexta-feira, 10 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de outubro de 2025
O número de matriculados em educação a distância (EAD) ultrapassou pela primeira vez o total de alunos da modalidade presencial nas universidades.
De acordo com o Censo da Educação Superior de 2024, do Ministério da Educação (MEC), o Brasil registrou 50,75% dos universitários na EAD.
São 5.189.391 estudantes na educação remota, ante 5.037.482 na presencial. Também pela primeira vez, o ensino superior atingiu a marca de 10 milhões de matrículas. Para um País que patina em educação, trata-se de um feito e tanto.
Esse recorde só foi possível graças à EAD. Entre 2014 e 2024, o número de ingressantes caiu 30,2% nas graduações presenciais, ao passo que subiu 360% nos cursos a distância. Esse crescimento se acentuou a partir de 2018, após o governo Michel Temer flexibilizar as regras para a abertura de polos das instituições particulares. Com a covid-19, os desafios do isolamento e os avanços tecnológicos, essa modalidade só ganhou força.
Como explicou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palacios, a EAD “proporcionou o atendimento de uma população que de outra maneira não teria acesso à educação superior”. São milhões de brasileiros que já estão no mercado de trabalho, passaram dos 30 anos de idade, têm filhos e, mesmo assim, persistem na busca por conhecimento e qualificação profissional.
Os custos mais baixos e o acesso à educação mesmo onde não há faculdades também pesam para a escolha pela EAD. Não à toa esses cursos estão presentes em 3.387 municípios brasileiros. E há ainda estudantes que optaram pela modalidade mesmo nas grandes cidades onde há instituições de ensino superior simplesmente porque não querem mais perder até duas horas de seus dias presos no trânsito.
Todos sabem bem que ter um diploma universitário significa melhores condições de vida para si e para a sua família. Prova disso é que uma pesquisa da economista Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), apontou que quem tinha curso superior em 2024 ganhava, em média, 126% mais do que aqueles que não haviam concluído uma faculdade.
Apesar de tudo isso, a EAD suscita debates acalorados, sobretudo em torno da qualidade do ensino ofertado. No Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) mais recente, apenas 6 dos 692 cursos de EAD avaliados conseguiram a nota máxima. Diante disso, o governo Lula da Silva baixou em maio deste ano um decreto para regular e cobrar o setor.
Serão permitidos três tipos de cursos: os presenciais, os semipresenciais, com 30% da carga horária presencial e 20% presenciais ou síncronas (aulas transmitidas ao vivo), e a distância, com carga mínima presencial de 10% e outros 10% entre presenciais ou síncronas mediadas. Pelas regras, as instituições não poderão mais oferecer cursos de saúde nem de Direito a distância, assim como as licenciaturas, que formam professores. Haverá o limite de 70 alunos por turma e as provas presenciais serão realizadas nos polos.
Essa regulamentação mais rígida foi baixada com atraso, por temor do Palácio do Planalto de prejudicar a imagem do governo aos olhos dos estudantes de EAD mais pobres, justamente um eleitor que o PT cultiva. Houve ainda ataques de gestores do próprio MEC à modalidade de ensino remoto.
Os dados do Censo da Educação Superior de 2024 mostram, contudo, que a EAD veio para ficar – o que faz sentido, num país cuja oferta de educação superior acessível é escassa para grande parte da população. Por essa razão, não se pode demonizar a EAD em si mesma, sobretudo em face da experiência bem-sucedida nessa área em grandes universidades no exterior.
As novas regras, se aplicadas para valer, coibirão a atuação de instituições caça-níqueis e levarão as universidades comprometidas com a boa formação de seus alunos a investir em infraestrutura, proporcionando a democratização do ensino superior. (Opinião/jornal O Estado de S. Paulo)