Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 16 de novembro de 2023
Frases, boas ou más, ajudam a contar histórias, histórias de um país, inclusive. Há frases lapidares, outras mais simples, porém poderosas; existem as comoventes, algumas engraçadas, outras trágicas, ocasionalmente premonitórias. Se o Brasil pudesse ser contado em frases, possivelmente nos surpreenderíamos com a atualidade de algumas delas, o anacronismo de várias e a banalidade de muitas. Não que os autores das sentenças estivessem pensando em prever o futuro, tarefa sempre ingrata, mas nossa crônica tendência ao atraso conferiu, ao longo dos anos, excepcional contemporaneidade a certas expressões que marcaram época em nosso País.
Barão de Mauá, gaúcho nascido em Arroio Grande, cujo bicentenário de nascimento comemora-se no próximo mês de dezembro, afirmava que “o melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”. Receberia efusivos aplausos, caso hoje discursasse num dos tantos encontros da nossa elite econômica, ávida por ver os ensinamentos de Irineu Evangelista de Souza finalmente tomarem corpo como políticas públicas, na visão desses, ainda tão marcadamente antimercado. Essa ansiedade é justificada por nossa indisfarçável tendência a postergar o encontro com o amanhã. O austríaco Stefan Zweig, tratou de plasmar o adágio em seu livro, de 1941 “Brasil, o País do Futuro”, título que passou a ser o nosso sobrenome. Como não se empolgar com tamanha e auspiciosa premonição?
O Brasil acabou com a saúva, como queria Auguste de Saint-Hilaire, mas ainda não conseguiu atender aos reclames de Capistrano de Abreu, que propunha que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por apenas um artigo: “todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”. Percebe-se, que apelos por moralidade pública tem uma longa trajetória, embora pouco efeito ainda sido observado, pelo menos a julgar pelo rosário de escândalos que povoam a política nacional. Esse lento vagar de nossas aspirações mais justas encontrou no Senador Pinheiro Machado um dos seus consolos: “Nem tão depressa que possam pensar que estou com medo, nem tão devagar que possa parecer provocação”. Os ecos desse aforisma ainda deitam raízes entre nós com notável desenvoltura.
Poucas frases, entretanto, aviltam tanto a nossa sensibilidade quanto aquela proferida pelo Ex-Ministro Delfim Netto, convencido de que não havia como melhorar a distribuição de renda sem aumentar a produção de riqueza no País. A teoria do bolo, todavia, somente entregou uma parte da promessa, aquela que explica a concentração de renda e falhou, no caso dramaticamente, na ponta da distribuição de riqueza. Onde erramos? Por que o fosso entre ricos e pobres se agiganta? Parece óbvio que nossas mazelas, constrangedoramente atuais, nos alertam para a necessidade de mudança, que não virá num passe de mágica, mas de um movimento que deverá ser autóctone, original e organicamente construído, uma vez que, não parece estar entre os desígnios do mundo, a faculdade de alguém vir a nos socorrer.
Padre Antônio Vieira, anteviu a necessidade de fazermos da ação, uma razão existencial: “Nós somos aquilo que fazemos. Nos dias que fazemos, realmente existimos; nos outros, apenas duramos”. Charles Darwin jurou nunca mais visitar um país de escravos, enquanto Cândido Figueiredo dizia que éramos a única nação civilizada do mundo que não sabia escrever o próprio nome. Barão de Itararé foi mais cáustico em suas expectativas porque tinha certeza de que de onde menos de espera, dali é que não sai nada. Na mesma linha, a frase que indevidamente foi atribuída a Charles de Gaulle, afirmava que não éramos um País sério. Como não se ofender com tamanha diatribe? Mais modernamente, Ulysses Guimarães acautelava-nos de que “baioneta não é voto. Cachorro não é urna”, alerta que se mostrou vital na resistência antigolpe de 2023, provando que a proteção da democracia é tão atemporal quanto imprescindível, e que se o nosso futuro tivesse que caber numa frase, que fosse nessa, tão oportunamente atual, tão oportunamente necessária.
No Ar: Pampa Na Tarde