Quarta-feira, 27 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 24 de agosto de 2025
Em resposta às tarifas de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, o governo Lula tem estudado taxar as big techs como forma de pressionar os EUA a negociar – as gigantes americanas da tecnologia foram citadas na carta em que Donald Trump anunciou o tarifaço para o País. Assim, Meta, Amazon, Microsoft, Google e Apple estão no centro da disputa entre os países. A pressão que as empresas passaram a exercer sobre o Brasil pelas mãos do governo republicano levaram a questionamentos sobre se o País poderia reduzir a sua dependência de serviços e plataformas americanas — o caminho para isso, porém, não é tão simples.
Segundo um estudo da Comscore, o Brasil tem 116 milhões de usuários digitais ativos e 86% da população faz uso de redes sociais, seja para lazer, trabalho ou conexão com familiares e conhecidos. Isso torna as big techs conhecidas principalmente por plataformas como Instagram, Facebook, Gmail, WhatsApp. No entanto, esses serviços são apenas a vitrine de uma operação muito mais intrínseca.
A Amazon, por exemplo, é uma das maiores provedoras de serviço de nuvem do País, com a AWS, o que significa que muitas empresas têm seus sistemas corporativos inteiramente dependentes dessa aplicação. Já o Google, além do Gmail, que está tanto em empresas quanto em contas pessoais, é o dono do Android, sistema operacional que está na grande parte dos celulares brasileiros.
O cenário de um País sem a atuação das gigantes não é impossível, mas extremamente improvável, de acordo com Guilherme Klafke, professor de Direito na Fundação Getulio Vargas (FGV). Além das plataformas de rede social, que hoje estão enraizadas na cultura e na sociedade brasileira, as grandes empresas de tecnologia são provedoras de serviços essenciais para o funcionamento da internet no Brasil, como data centers e operação em nuvem.
“A gente imagina as big techs numa ideia de redes sociais, mas a internet é um ecossistema muito grande. Pensar um cenário alternativo envolveria deslocar isso para um outro tipo de empresa grande capaz de prestar esses serviços”, explica Klafke.
O cenário de dependência se desenrolou ao longo de anos por três motivos: primeiro, a forma como a internet cresceu no Brasil. Por aqui, as plataformas americanas ganharam força desde o início da conexão da web, sem concorrentes nacionais significativos para seus principais serviços: e-commerce, redes sociais e comunicação online.
Assim, toda a cadeia de uso foi desenvolvida dentro e com a presença dessas empresas – diferente do que acontece na China, por exemplo, que construiu bases nacionais para todas essas plataformas desde o início de seu acesso à internet. Hoje, o país tem suas próprias versões de mensageiros, varejistas online, redes sociais e serviços em cloud, bloqueando a presença de aplicações ocidentais.
O segundo ponto é que, dada a popularização e uso extremo desses produtos, é muito difícil que o Brasil consiga sustentar a perda dessas plataformas, mesmo com alternativas adotadas de outros países. Uma migração levaria tempo e acarretaria em prejuízo financeiro para diversos setores que usam as plataformas americanas – um pequeno exemplo de como diversas estruturas seriam afetadas aconteceu em outubro de 2021, quando o WhatsApp ficou cerca de sete horas sem funcionar no País. Na ocasião, milhares de empreendedores que utilizavam a ferramenta para negócios ficaram sem comunicação com seus clientes.
Ainda, a diversidade de estruturas que permitem que a internet funcione no Brasil tornaria o rompimento com essas empresas bastante difícil. Hoje, o Brasil conta com mais de 20 mil provedores de internet diferentes, com cerca de 23 milhões de pontos de acessos, o que significaria uma fiscalização em larga escala e um possível atrito com o setor de telecomunicações, segundo Klafke. Além disso, o País tem déficit no uso de data centers. Estima-se que cerca de 60% das informações processadas no País são feitas por servidores estrangeiros, um cenário que o governo tenta atenuar por meio do Redata, plano do Ministério da Fazenda que visa atrair investimento estrangeiro de até R$ 2 trilhões na construção de data centers em território nacional.
A interrupção desses serviços também poderia acarretar o isolamento internacional, como é o caso da Rússia. Inicialmente, o país tinha a presença de empresas ocidentais, mas o governo de Vladimir Putin decidiu turbinar plataformas nacionais, também em resposta a sanções, principalmente dos EUA. O resultado é uma internet extremamente fechada para a população, que tem pouco acesso à sites e serviços online vindos de fora do país – no início da guerra contra a Ucrânia, por exemplo, muitos usuários burlavam as plataformas utilizando VPNs.
“Imaginar um cenário como a Rússia é imaginar um cenário de pária internacional, em que você tem uma restrição enorme no uso e na variedade de serviços. Não é desejável pensar na internet desse jeito, porque aí você paralisa a inovação, paralisa a comunicação e o povo brasileiro tem um uso da internet muito específico”, aponta Klafke. (Com informações de O Estado de S. Paulo)
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