Quinta-feira, 28 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de agosto de 2025
O Brasil vive a mais previsível e poderosa transformação econômica das próximas décadas: o envelhecimento populacional acelerado. A frase atribuída a Delfim Netto de “o Brasil ficou velho antes de ficar rico” sintetiza com precisão o tamanho do desafio. Diferentemente dos países desenvolvidos, que envelheceram após consolidar sistemas de proteção social robustos e altos níveis de renda per capita, o Brasil enfrenta essa transição em meio a desigualdades históricas, baixa produtividade e instabilidade fiscal.
As estatísticas são contundentes. Em 1980, apenas 6% da população brasileira tinha 60 anos ou mais. Hoje, esse grupo já ultrapassa 15% e, segundo projeções do IBGE, chegará a cerca de 30% em 2050. Em números absolutos, isso significa mais de 60 milhões de idosos em pouco mais de duas décadas. Ao mesmo tempo, a taxa de fecundidade caiu vertiginosamente: de 6 filhos por mulher em 1960 para 1,6 em 2023, abaixo da taxa de reposição populacional que é de 2.1 filhos por mulher.
Essa transição, que na Europa levou mais de um século, ocorre no Brasil em pouco mais de 40 anos. A França, por exemplo, levou 115 anos para que a proporção de idosos dobrasse de 7% para 14% da população; o Brasil fará o mesmo em menos de 25 anos. A rapidez da mudança limita o tempo de adaptação das políticas públicas e pressiona setores centrais da economia.
Os impactos já são visíveis. A previdência social, que hoje consome quase 13% do PIB, tende a se tornar ainda mais onerosa. O sistema de saúde precisará lidar com custos crescentes de doenças crônicas, internações prolongadas e demandas por cuidados de longa duração. O mercado de trabalho sofrerá com a redução da população em idade ativa, que deve começar a cair já na próxima década, ao mesmo tempo em que exigirá políticas de requalificação para manter trabalhadores mais velhos produtivos.
A comparação internacional mostra que o desafio brasileiro é singular. O Japão, país mais envelhecido do mundo, possui renda per capita superior a US$ 40 mil e um sistema de inovação que sustenta a produtividade. A Alemanha, com mais de 22% de idosos, dispõe de amplo sistema de bem-estar social. O Brasil, por sua vez, chega ao atual patamar com renda per capita em torno de US$ 10 mil e enormes déficits estruturais.
Quais caminhos seguir? Em primeiro lugar, enfrentar o tema com planejamento de longo prazo, e não apenas ajustes pontuais. A Previdência precisa de sustentabilidade fiscal, mas também de mecanismos que incentivem a permanência voluntária no mercado de trabalho. A saúde deve migrar para um modelo centrado na prevenção, no envelhecimento ativo e em tecnologias que ampliem a eficiência. Na educação, será essencial preparar jovens para carreiras mais produtivas e investir em aprendizado contínuo ao longo da vida.
Além disso, é fundamental enxergar o envelhecimento não apenas como um problema, mas como oportunidade. A chamada “economia da longevidade” movimenta trilhões de dólares em países desenvolvidos, envolvendo turismo, moradia adaptada, serviços de bem-estar, inovação tecnológica e novos formatos de trabalho. O Brasil pode criar políticas para fomentar esse mercado, que não só gera empregos como melhora a qualidade de vida da população idosa.
O relógio demográfico corre sem trégua. A diferença estará em como o Brasil responderá: com atraso e improviso, como infelizmente temos agido em vários outros temas importantes, assumindo custos sociais e econômicos insustentáveis, ou com visão estratégica, transformando o desafio em vetor de inovação. O tema é bastante urgente e delicado, já que reformas no setor previdenciário geralmente são associadas à insensibilidade social, afetando o engajamento político ao tema. A maioria da população não percebe as limitações das contas públicas, acreditando que basta reduzir a corrupção, cortar privilégios da elite e aumentar um pouco os impostos sobre os ricos para manter os atuais benefícios previdenciários. Porém, como vimos acima, o problema é imensamente mais complexo e precisa ser tratado de imediato.
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