Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de dezembro de 2025
Nos primeiros dias de dezembro, os olhos da meteorologia se voltaram para o Rio Grande do Sul. Desde o dia 4 de dezembro de 2025, os especialistas já alertavam sobre a formação de um novo ciclone extratropical que poderia atingir o estado.
A previsão se confirmou: no dia 9 de dezembro, o sistema ganhou força, trazendo ventos acima de 100 km/h e chuvas intensas. Enquanto isso, na Serra Gaúcha, em Flores da Cunha, outro fenômeno climático se manifestava, mostrando como é quase inacreditável que uma mesma região possa ser afetada por diferentes eventos em tão pouco tempo.
Mas afinal, o que é um ciclone? Trata-se de um sistema de baixa pressão atmosférica que provoca ventos fortes e chuvas volumosas. Ele se forma quando massas de ar quente e úmido encontram massas de ar frio, criando instabilidade e alimentando nuvens carregadas.
No caso dos ciclones extratropicais, comuns no Sul do Brasil, a energia vem do contraste entre frentes frias e quentes. O monitoramento é feito por satélites, radares e modelos matemáticos que simulam o comportamento da atmosfera, permitindo que órgãos como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Cemaden e empresas privadas como a Climatempo emitam alertas antecipados.
É nesse ponto que entram os meteorologistas e climatologistas. Os primeiros se dedicam às previsões de curto prazo, analisando dados em tempo real para antecipar tempestades e ciclones. Já os climatologistas estudam padrões de longo prazo, como as mudanças climáticas globais. Ambos são profissionais essenciais, que trabalham em universidades, centros de pesquisa e empresas, garantindo que a sociedade esteja preparada para enfrentar os desafios da natureza.
A tecnologia tem sido nossa aliada. Satélites, supercomputadores e inteligência artificial permitem prever eventos com dias de antecedência. Mas é importante lembrar que, por trás das máquinas, existem pessoas inteligentes, cientistas e inventores que desenvolveram essas ferramentas. A tecnologia é poderosa, mas não substitui o trabalho humano.
E, como alertam os especialistas, nada disso deveria ser surpresa: o Rio Grande do Sul é um ponto de confluência climática, onde massas de ar frio vindas da Antártida se encontram com massas quentes do Brasil central. Isso torna a região uma das mais vulneráveis do mundo a eventos extremos.
Infelizmente, junto com os alertas científicos, surgem as fake news. Há quem espalhe boatos de que ciclones seriam causados por “armas militares que alteram o clima”. Isso é pura desinformação. Além de não ter base científica, tais teorias desviam a atenção das verdadeiras causas: o aquecimento global e a emissão de gases de efeito estufa. A desinformação gera medo, confusão e enfraquece a luta contra a crise climática.
O que precisamos é combater o aquecimento global com medidas concretas, reduzir emissões e enfrentar os interesses econômicos que lucram com a poluição.
É curioso pensar que a mesma tecnologia que nos protege também pode nos levar ao precipício. O bom uso da tecnologia salva vidas, antecipa desastres e fortalece democracias. O mau uso, porém, pode manipular informações, ampliar desigualdades e acelerar a degradação ambiental. Exemplo são os veículos à combustão que já não são mais necessários para a humanidade. Cabe a nós escolher o caminho.
O ano de 2026 promete ser desafiador. Teremos mais eventos climáticos extremos, avanços enormes em inteligência artificial, eleições em ambiente polarizado e tensões internacionais que chegam até nossos países vizinhos. Mas também será um ano de oportunidades. Se soubermos usar a tecnologia com responsabilidade e ouvir a ciência, poderemos transformar crises em soluções.
O pioneirismo de José Lutzenberger, que em 1971 iniciou sua luta pela sustentabilidade, nos lembra que a mudança começa com coragem e visão. Ele acreditava na continuidade do planeta e na responsabilidade humana diante da natureza. Hoje, mais de cinco décadas depois, sua mensagem continua atual: precisamos unir ciência, tecnologia e consciência social para garantir um futuro sustentável.
O ciclone que desafia o Sul é mais do que um fenômeno meteorológico. É um chamado. Um alerta da natureza para que repensemos nosso papel no planeta. Se enfrentarmos a desinformação, derrubarmos barreiras econômicas e abraçarmos a sustentabilidade, poderemos transformar o medo em esperança.
* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e desenvolvedor de negócios sustentáveis