Terça-feira, 07 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de outubro de 2025
Você já reparou como algumas pessoas parecem mudar assim que têm, mesmo que por um breve instante, alguma forma de controle o poder sobre você?
A falsa sensação de poder
Pode ser o porteiro ou a recepcionista que segura o interfone com cara de rei, a atendente do balcão que “esquece” seu pedido só para te fazer esperar ou o servidor público que sabe que, naquele instante, você depende dele.
É como se um botão interno fosse acionado: de repente, aquela pessoa comum, até simpática, veste uma coroa invisível, mesmo que isso seja uma “falsa sensação de poder”.
Essa cena cotidiana revela algo maior: o poder não se limita aos grandes cargos, ele se manifesta em pequenas ocasiões, nos bastidores do cotidiano. Muitas vezes, é nesses instantes mínimos que a arrogância verdadeira se mostra.
Gente que nunca teve nada de relevante, mas que, se recebesse um cargo de verdade, aumento ou promoção, se transformaria em ditador de condomínio e, se tivesse oportunidade, acabaria assediando moralmente outras pessoas, inclusive seus antigos colegas de função.
Mas talvez o exemplo mais doloroso esteja no meio do caminho. Aquele colega de anos, com quem você dividia gargalhadas no intervalo, assistia futebol no fim de semana e confiava de olhos fechados.
O poder médio
Um dia, ele é promovido a chefe de setor, gerente ou encarregado e, de repente, tudo muda. A nova posição acende nele um brilho estranho: frases autoritárias começam a surgir, os convites somem, e a amizade vira subordinação.
O poder médio, aquele que não manda no mundo, mas manda em você, é muitas vezes o mais revelador. Porque não tem pompa de rei nem humildade de igual; tem o ego inflado pela sensação de estar “um degrau acima”.
Há quem diga que “o poder corrompe”. Lord Acton (historiador britânico) cunhou a frase clássica: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.
Mas será mesmo que o poder “corrompe”? Ou ele apenas revela o que já estava ali, escondido, tímido, à espera de holofotes e uma oportunidade de se manifestar?
Estudos de comportamento mostram que o poder diminui nossa empatia e aumenta a sensação de estar “acima” das regras, como se fosse uma espécie de droga que atua no cérebro.
No início, quem ascende costuma manter traços colaborativos. Com o tempo, muitos passam a interromper mais, ouvir menos e mandar mais ainda. O poder mexe no cérebro. Mas, antes de ser química, ele revela o seu caráter.
Os grandes poderes
Isso foi retratado até mesmo nas histórias em quadrinhos, quando o Tio Ben de Peter Parker (o Homem-Aranha) disse a ele antes de morrer: “Grandes poderes vêm com grandes responsabilidades”.
Pense nas figuras que ocupam cargos elevados e se comportam como imperadores modernos. Muitos foram “corrompidos”, principalmente depois que tiveram suas sombras iluminadas por refletores mais fortes.
Em tempos de censura, não é preciso citar nomes. Basta observar… Mas o mais fascinante são os raros casos de quem enxerga o próprio reflexo nesse espelho e decide mudar.
Como exemplo, vou usar uma conversa que recentemente tive com meu amigo, o palestrante, economista e consultor de marketing internacional Rubens Bender, a quem respeitosamente me refiro agora neste texto.
Um homem que transitou entre a elite intelectual e empresarial, não apenas do Brasil, mas em todo o mundo dos negócios. Ele relata que, no passado, no auge de sua carreira, sucesso profissional e competência, tornou-se uma pessoa elitista, arrogante e, segundo suas próprias palavras, insuportável…
A riqueza, os cargos e as conexões não o moldaram: apenas liberaram as iniquidades que coexistem dentro de todos nós. E sabe o que fez a diferença? Ele reconheceu… Caiu a ficha (gíria da minha geração). Entendeu que precisava reencontrar a sua humanidade antes de qualquer outra coisa.
Essa consciência é rara e mostra grandeza espiritual. Afinal de contas, não somos perfeitos; muito pelo contrário, estamos em constante transformação.
Atualmente, Bender não só compartilha seus segredos de sucesso, mas também fala, em suas palestras, da importância de não perdermos nossa humanidade.
Poucos têm coragem de se olhar no espelho do poder e admitir o que veem. A maioria prefere continuar com a coroa imaginária, confundindo respeito com obediência e autoridade com soberania.
No fim das contas, talvez o poder não seja nem vilão nem herói. Talvez ele seja apenas um espelho cruel, que amplia virtudes, mas também escancara defeitos.
E, diante desse espelho, alguns se apaixonam pelo reflexo; outros caem em si e descobrem a sua verdadeira humanidade.
Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho