Sábado, 06 de Setembro de 2025

Home Colunistas O golpe não houve porque não deu certo

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Em geral, tenho respeito pelas opiniões diferentes das minhas. Mas elas precisam ter certa lógica, elas não podem ofender os fatos.

É do que se trata no caso: houve tentativa de golpe, sim, na história recente do Brasil. E os eventos dramáticos de 8 de janeiro de 2023 foram tão somente o ápice de uma conspiração, diuturnamente tramada, com várias etapas cumpridas, para impedir a posse de um governante eleito, Lula, e botar abaixo o estado democrático de direito.

As evidências estão todas aí, à nossa frente: basta abrir os olhos e refletir brevemente. O jornal Estado de São Paulo, na edição de 31 de agosto, em trabalho primoroso, elaborou uma cronologia completa das palavras, das tramas, das ações ostensivas do golpe que não houve, por duas razões principais: a incompetência dos golpistas e o formidável aparato das nossas instituições.

Toda a reiterada vigarice de fraude das urnas começou antes da eleição de 2018, atravessou o governo de Bolsonaro, e persiste até hoje, na voz de incautos e de portadores de má-fé. E no entanto, quase 30 anos depois da adoção das urnas eletrônicas, nunca um só vereador do mais longínquo município brasileiro perdeu o mandato por causa de uma fraude, de uma só manipulação do voto popular.

O então presidente Jair Bolsonaro não passou um dia sem “denunciar” e combater o sistema, ainda que ele e seus filhos tenham vencido, sem contestação, todas as eleições na vigência das urnas eletrônicas. E ainda que em 2018 e 2022 o seu partido e aliados tenham obtido uma maioria folgada nas casas do Parlamento.

Qual o sentido da pregação sistemática, sem provas, se não fosse desde logo colocar sob suspeita a eleição seguinte, de 2022? Qual o sentido de denunciar um crime suposto, a ser cometido no futuro, com o objetivo ignóbil de fraudar a vontade popular, com data marcada e certa?

A orquestração contra as urnas eletrônicas, reverberada pelos bobalhões que existem aos magotes em todas as classes, inclusive as mais instruídas, era um ato planejado do golpe. O ataque obsessivo era cobra criada, não tinha sentido nem razão de se tornar uma política de governo ou de Estado, que não fosse essa: melar o jogo.

A reportagem do Estadão é um relato minucioso das ações concretas e documentadas para a ruptura pretendida. Não deixa pedra sobre pedra na narrativa de que tudo não passou de um mal-entendido, ação tresloucada de alguns “malucos”, como se pronunciou – covarde e traiçoeiramente – Bolsonaro.

Para dizer que não houve golpe, é preciso fechar os olhos para a ação ostensiva dos acampamentos de “patriotas” ao redor dos quartéis. Não estavam ali fazendo um convescote. Estavam ali apelando aos oficiais e à soldadesca para que “salvassem o país” – quando a única ameaça aos valores e princípios republicanos e democráticos eram eles próprios.

É por isso que os atos cometidos à luz do dia e à vista de todos – e notem que nem me fixei na infâmia de 8 de janeiro de 2023 – os seus autores e protagonistas são tão impiedosos com o ministro Alexandre de Moraes. Não podendo negar os fatos, atacam o homem.

(titoguarniere@terra.com.br)

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