Sexta-feira, 10 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de outubro de 2025
Domingo, manhã de primavera na nossa Porto Alegre de múltiplas estações. Teatro Simões Lopes Neto no Multipalco Eva Sopher. Gente ávida por encantamento. Quando tudo terminou e o aplauso varreu o Teatro, conversei com o Maestro Evandro Matté.
Um olho nele e o outro na batuta, isto mesmo, aquela varinha mágica, que fica na bancada sobre o caderno de partitura. Ali ela é natureza morta, nas mãos dele é firmeza e suavidade, harmonia e música. Do lado direito ela comanda o tempo, acelera, retarda, dá movimento e conecta, do lado esquerdo estabelece as dinâmicas, a sensação e as variações.
Ambas, com a batuta e o gestual, expressam um código universal, um só comando, pouco importa o Estado, o País o Continente. O Mestre é unico. Aquele pedacinho de madeira, dominado por suas mãos especiais, dotadas de uma audição musical inexplicável, dão vida de forma homogênea transformando os inúmeros instrumentos musicais, cada um com seu som, seu timbre, sua tenacidade, sua vibração, num conjunto sólido chamado música.
Ela não é concreta nem abstrata, ela simplesmente é, e como tal, tem a incrível capacidade de nos envolver.
Eles, homens e mulheres, quase uma centena, estavam sentados, vestindo preto, os instrumentos aguardavam em compasso de espera. O silêncio tomava conta do palco e da plateia. Foi então que a cortina se abriu e uma luz tênue mostrou aqueles rostos circunspectos.
Segundos, do camarim ao coração da orquestra foram silenciosos e calculados passos, ele entrou. O Regente curvou-se, num gesto simbólico de respeito, aos que assistiam e aguardavam. Virou-se e fez o mesmo com os músicos. Então, de costas para o público, parou na frente da sua estante, olhou simbolicamente para cada um dos seus artistas, que só tinham razão de ser pela existência coletiva, baixou a cabeça compenetrado, folheou a partitura na página certa e, com a mão direita, pegou aquela varinha mágica.
Naquele exato instante bateu com ela, 1, 2,3, a orquestra aos poucos foi acordando e respondendo com sonoridade agradável. O espetáculo estava começando. Em tempos de desencontros, de surdez de palavras, de gestos e de ações, o meu reconhecimento aos que trazem paz e preenchem o vazio do coração, os músicos, o maestro e a batuta. Nas mãos, direita e esquerda do Regente, ela transita apenas pra produzir o bem.
(Eduardo Battaglia Krause é advogado e escritor)