Segunda-feira, 10 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de novembro de 2025
Belém amanheceu diferente. O início oficial da COP30 no Parque da Cidade não apenas marca o começo de uma conferência internacional, mas simboliza o esforço coletivo de uma cidade — e de um planeta — em busca de soluções urgentes para a crise climática.
Embora o epicentro esteja no parque, as atividades se espalham por diversos setores da cidade, criando uma atmosfera de mobilização inédita. A COP30 não é apenas um evento diplomático: é um chamado à ação, à escuta e à transformação.
Ao chegar ao Parque da Cidade, meu primeiro destino foi a chamada Blue Zone, área reservada a cientistas, diplomatas, negociadores, observadores credenciados e representantes de organismos internacionais. O acesso à parte interna é restrito, o que reforça o caráter técnico e estratégico desse espaço.
Após o credenciamento, caminhei pela área externa tentando absorver o ambiente. Confesso que me senti um pouco deslocado — o inglês é o idioma mínimo exigido, mas o que se ouve são conversas em francês, árabe, espanhol, mandarim, e tantos outros. A diversidade linguística é um reflexo da pluralidade de interesses e tensões que permeiam as negociações.
Apesar da sofisticação do espaço, é impossível ignorar a presença incômoda de lobistas do setor de petróleo. Sua atuação, muitas vezes disfarçada de “transição energética”, representa um entrave real às decisões que precisam ser tomadas com urgência. É por isso que a presença de observadores e observatórios independentes é crucial: são eles que monitoram, denunciam e expõem quem está ali apenas para atrasar o progresso climático.
Entre os rostos que circulam pela Blue Zone, os indígenas se destacam. Suas vestimentas tradicionais, cocares, pinturas corporais e a firmeza no olhar os tornam facilmente identificáveis. Mas mais do que aparência, sua presença é um lembrete vivo de que a floresta tem voz — e que essa voz precisa ser ouvida. Talvez nunca uma COP tenha sido tão inclusiva. Povos originários, juventudes, mulheres, quilombolas, cientistas e ativistas dividem o mesmo espaço, cada um com sua bandeira, mas todos com um objetivo comum: garantir um futuro habitável.
Na Green Zone, o clima é outro — mais leve, mais acessível, mais interativo. O controle de segurança é rigoroso, com esteiras e detectores de metais, mas o processo é ágil. Aqui, as pessoas estão mais abertas ao diálogo. Há uma curiosidade genuína em saber de onde você vem, o que defende, o que propõe. A estrutura lembra uma feira: estandes de governos, empresas, ONGs e movimentos sociais se espalham por corredores temáticos. Auditórios recebem debates sobre mitigação, adaptação, políticas públicas e financiamento climático.
Os debates que acompanhei foram instigantes. Os seis eixos temáticos da COP30 — energia, florestas, cidades, alimentação, tecnologia e justiça climática — organizam as discussões e ajudam a conectar ciência, política e sociedade. É nesse espaço que se constrói a ponte entre o conhecimento técnico e a mobilização popular.
Fechei o primeiro dia exausto, mas com a sensação de missão cumprida. Esta é minha primeira COP, e estou aqui como voluntário da Fundação Gaia, apresentando o legado de José Lutzenberger. No domingo (16), terei a honra de mediar um painel sobre sua trajetória. Lutzenberger foi um visionário: denunciou os agrotóxicos, defendeu a agroecologia, promoveu a educação ambiental e antecipou, com décadas de antecedência, os debates que hoje dominam a agenda climática.
Sua visão integradora entre ser humano e natureza é mais atual do que nunca. As negociações oficiais, por enquanto, seguem nos bastidores, sob a liderança do embaixador André Corrêa do Lago.
A expectativa é que até o encerramento, em 21 de novembro, sejam firmados compromissos sólidos para a redução dos gases de efeito estufa e para o financiamento climático prometido às nações mais vulneráveis. A agenda é ambiciosa, mas o tempo é curto. E o planeta, impaciente.
Renato Zimmermann é desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética.