Quarta-feira, 24 de Setembro de 2025

Home Ciência O pulso de 26 segundos da Terra: há mais de 60 anos, enigma sísmico ainda intriga a ciência

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A cada 26 segundos, sem falhar, o planeta emite uma pulsação surda, uma vibração que atravessa continentes e oceanos com uma regularidade desconcertante. Não se trata de um fenômeno meteorológico ou de um simples ruído de fundo: é um microssismo, um tremor de terra de baixa intensidade, mas de origem misteriosa.

A história desse fenômeno remonta à década de 1960, quando o geólogo Jack Oliver, do Observatório Geológico Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, detectou um sinal sísmico peculiar enquanto revisava registros em várias estações. Ele percebeu que se tratava de algo diferente: uma frequência estável e uma periodicidade tão marcante que se destacava até mesmo em instrumentos pouco sofisticados. Em 1962, Oliver publicou sua descoberta, definindo o fenômeno como “uma tempestade mundial de microssismos com períodos de cerca de 26 segundos”, segundo a Revista Nature.

O epicentro desse pulso sísmico está localizado no Golfo da Guiné, na costa oeste da África, próximo à Baía de Bonny e à ilha de São Tomé. Ali, o fenômeno é registrado como um sinal constante e monótono que desafia explicações fáceis. É estável demais para ser atribuído ao acaso e intenso o suficiente para interferir em estudos científicos aprofundados.

Teorias sobre a origem

Diversas teorias foram propostas para explicar esse fenômeno. Uma delas sugere que o pulso é causado por ondas longas atingindo a plataforma continental no Golfo da Guiné, gerando ondas de Rayleigh que se propagam pelo planeta. Outra hipótese aponta para processos magmáticos ou hidrotermais sob o Atlântico Sul, próximos à ilha de São Tomé. No entanto, até o momento, nenhuma dessas propostas oferece uma resposta definitiva, de acordo com reportagem da Pplware.

O século XXI trouxe novas ferramentas para a investigação desse mistério. Em 2006, uma equipe liderada por Nikolai Shapiro revelou que o pulso se origina no Golfo da Guiné e viaja a cerca de 3,5 km por segundo, a velocidade típica das ondas de Rayleigh. Eles também descobriram que o sinal aumentou durante o inverno do Hemisfério Sul, indicando uma possível ligação com fenômenos oceânicos.

Em 2013, um estudo detectou duas fontes diferentes no Golfo da Guiné: uma com frequência de 0,036 Hz, localizada perto do vulcão São Tomé, e outra com frequência de 0,038 Hz, o famoso pulso de 26 segundos, que não pôde ser explicada por movimentos tectônicos ou impacto de ondas.

Em 2023, um estudo liderado por Charlotte Bruland e Céline Hadziioannou, publicado na Nature Communications Earth & Environment, trouxe novas nuances. A pesquisa identificou “deslizamentos de frequência” associados ao mesmo microssismo. Analisando dados do Marrocos, Camarões e outros continentes, a equipe descobriu que, durante certos períodos, o sinal constante era acompanhado por aumentos progressivos na frequência que podiam durar dias.

Esses deslizamentos sempre se originaram no mesmo local e começaram na mesma frequência do pulso clássico. Seu comportamento repetitivo sugere a existência de um processo físico desconhecido, capaz de gerar tanto um sinal contínuo quanto variações harmônicas. Segundo os autores, “é um fenômeno que nos obriga a repensar o que sabemos sobre sinais sísmicos de longo período”.

As explicações ainda contemplam sistemas vulcânicos, hidrotermais ou magmáticos que ressoam e liberam energia intermitentemente, possivelmente modulados por gases ou pela geometria de condutos subterrâneos. Hipóteses oceânicas também são estudadas, como tempestades distantes enviando ondas excepcionais em direção à plataforma africana. Nenhuma delas, entretanto, consegue explicar a regularidade, persistência e força do pulso, detectado há mais de seis décadas.

Apesar do progresso científico e do acúmulo de dados, o microssismo de 26 segundos permanece inexplicável. O Golfo da Guiné mantém seu pulso constante, um eco que os sismólogos registram com precisão, mas cuja causa final continua desconhecida. Essa vibração que atravessa o planeta é ao mesmo tempo uma fonte de frustração e uma promessa: a possibilidade de que essa batida do coração esconda uma chave ainda desconhecida para compreender a dinâmica profunda da Terra. As informações são do jornal O Globo.

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