Sexta-feira, 14 de Fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 3 de outubro de 2022
A apuração não havia chegado a 1%, mas a largada da contagem de votos para a Presidência da República curiosamente começou com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perto de 51% e Jair Bolsonaro (PL), com 37%, espelhando perfeitamente os patamares das pesquisas Ipec e Datafolha da véspera. Minutos depois, um longo período de Bolsonaro bem à frente de Lula, e os primeiros tuítes começaram a dizer que “as pesquisas erraram”, “algo aconteceu”. Até que Lula subiu, passou Bolsonaro às 20h02 e chegou exatamente em seu patamar registrado na véspera das pesquisas de opinião pública. Bolsonaro, não.
Com 43,20% dos votos em todo o Brasil, o candidato à reeleição foi dormir no domingo eleitoral seis pontos percentuais à frente do percentual que alcançava no Ipec de véspera e sete pontos em relação ao Datafolha. Pesquisadores e profissionais do mercado de opinião pública conversaram com o Pulso na tentativa de começar a desempacotar essas discrepâncias. Um movimento-chave é o destino dos eleitores que diziam votar em Ciro Gomes (PDT) até o final e que, na hora H, acabaram escolhendo Bolsonaro.
Ao perguntar em quem os entrevistados votaram em 2 de outubro, as próximas pesquisas poderão iluminar mais esse ponto, mas o destino dos votos de Ciro, que tinha 5% na véspera e terminou com 3,04%, pode ajudar a explicar algum ganho de votos para Bolsonaro. Não necessário para fechar a conta final, até porque a rigor Ciro teria entre 3% e 7%, dada a margem de erro. A hipótese se faz válida porque, nas últimas semanas, mais e mais os “ciristas” passaram a apresentar Bolsonaro como segunda opção de voto, demarcando um novo “match” eleitoral que veste bem um intenso sentimento antipetista espalhado no eleitorado.
De agosto para cá, eleitores de Tebet se tornaram mais próximos de Lula como opção e, em sentido totalmente oposto, os eleitores e Ciro começaram a simpatizar com Bolsonaro. Até o momento em que, no sábado pré-eleitoral, 22% dos eleitores de Ciro diziam que tinham o presidente como segunda opção, número que supera o de Tebet, candidata do MDB: 15% de seus eleitores tenderiam para Bolsonaro e incríveis 31% para Lula — o que pode ser uma das chaves até o dia 30 de outubro nas estratégias dos dois finalistas. Quais desses votos responderiam melhor a estratégias de persuasão eleitoral? As campanhas tentarão descobrir.
Apesar de os eleitores de Tebet irem predominantemente para a candidatura do petista, houve um salto, ainda que menos significativo, de eleitores da emedebista que podem optar por Bolsonaro. Em 18 de agosto, apenas 6% dos votos da senadora poderiam migrar para Bolsonaro. Em 2 de setembro, passou para 20%, até terminar em 15%, uma redução provavelmente explicada pelas críticas contundentes da senadora ao presidente da República nos debates.
Evidentemente, não são apenas migrações entre candidatos que explicam a discrepância do desempenho de Bolsonaro. A violência política também tem o poder de impactar a metodologia, uma vez que, embora os estatísticos façam de tudo para reequilibrar um setor censitário que pode ficar sub-representado por causa da violência, o ideal é que as entrevistas necessárias sejam feitas nos locais sorteados. Se esse perfil de localidade com difícil acesso, por acaso, tender mais para um lado ou outro, pode haver alteração de resultado.
Movimento se repete
Um outro profissional do mercado lembra também o que ocorreu em 2018, quando Bolsonaro cresceu no dia da eleição. O então candidato que disputava a Presidência com Fernando Haddad (PT) ganhou entre cinco e seis pontos de um dia para o outro na comparação com Ibope (hoje Ipec) e Datafolha. Um patamar praticamente idêntico ao da subida de ontem para hoje. A diferença é que Lula permaneceu praticamente imóvel ontem em relação às pesquisas, dentro da margem de erro, enquanto Haddad, em ascensão, ganhou cinco no dia final do primeiro turno de 2018.
Enquanto a abstenção ficou estável como sempre foi — cerca de um quinto do eleitorado — os votos brancos (1,59%) e nulos (2,82) foram os mais baixos desde 1989, sendo praticamente a metade do registrado em 2018 e dando mais combustível a um possível crescimento de Bolsonaro nesse público. Historicamente, para o cálculo dos votos válidos, os institutos de pesquisa desconsideram brancos, nulos e também os indecisos. Mas o resultado indica que, nas urnas, o eleitor não ficou em cima do muro e acabou escolhendo um dos candidatos.
No Ar: Pampa Na Madrugada