Sábado, 18 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de novembro de 2023
O economista Aldo Mendes, ex-diretor do Banco Central (BC), acredita que as incertezas do cenário externo somadas ao risco fiscal podem fazer com que o Comitê de Política Monetária do (Copom) do BC reduza a velocidade do corte na taxa de juros a partir do ano que vem. “A grande incógnita é o que vai acontecer a partir de janeiro de 2024”, afirma. Até dezembro, ele espera mais um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, agora em 12,25% ao ano.
O economista observa que, com a inflação na faixa de 5,5%, há “gordura” para o corte. No entanto para 2024, esse cenário poderá mudar. O juro nos Estados Unidos permanecendo elevado por período mais longo pode turbinar o dólar e gerar pressões inflacionárias.
Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
1) Como os últimos acontecimentos, como guerra no Oriente Médio, a disparada dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano e a possível revisão da meta fiscal para 2024 podem afetar as decisões futuras do Copom?
Acho que a guerra nem tanto. Mas a incerteza em relação à política monetária dos Estados Unidos e essa dúvida sobre a questão da meta fiscal poderão, de alguma maneira, mover o Copom para uma trajetória menos agressiva de redução da taxa de juros, mas não no curto prazo. Este ano deve haver corte de mais meio ponto em dezembro. A taxa de juros está com bastante gordura.
2) Como o sr. avalia a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de sinalizar que a meta de déficit fiscal zero não será cumprida?
Foi uma forma engenhosa que o governo encontrou de sair da armadilha na qual ele se encontrava. O mercado já sabia que seria muito difícil cumprir essa meta em 2024. O presidente fez o comentário. Mas não foi o ministro da Fazenda. Soou como um posicionamento político. E agora está se negociando no ambiente mais correto, que é entre o Ministério da Fazenda e o Congresso.
3) O Copom vai reduzir o ritmo de corte de juros?
A grande incógnita é o que vai acontecer a partir de janeiro de 2024. Hoje tem uma inflação bem comportada, em torno de 5,5%. Ainda que o componente fiscal traga incertezas, a Selic está acima de 12%. Dá para cortar juros até dezembro. Os preços sensíveis a juros, que são os livres, acumulam alta de 3,5%, e os serviços, de 5,5%. E a média dos núcleos de inflação vem caindo ao longo do ano.
4) O sr. mudou a projeção da taxa terminal de juros ao final desse ciclo de corte?
Há muitas dúvidas sobre quando termina esse ciclo de corte e em quanto estarão os juros. Não temos elementos suficientes para avaliar.
5) Isso significa juros mais altos por um período maior?
Eu diria que pode ocorrer uma redução na velocidade de corte e até uma pausa em algum momento lá no primeiro trimestre do ano que vem.
6) Há possibilidade de crescimento menor da economia brasileira em 2024?
Sim, o (boletim) Focus já mostra que o crescimento previsto para o ano que vem é a metade do esperado para este ano.