Sábado, 07 de Junho de 2025

Home Colunistas O suicídio do reitor

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Uma sucessão de eventos trágicos contribuiu para a morte por suicídio do ex-reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, 2017, em Florianópolis.

Um deles foi a promoção da Delegada Erika Marena à Superintendência da PF de SC no ano de 2016. Ela chegou cheia de moral, por causa de sua atuação na Operação Lava-Jato, em Curitiba, sob as ordens do juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol.

Ela trouxe na bagagem o “espírito da época”, a concepção distorcida de que tudo o que o Brasil precisava para vencer os seus males históricos era acabar com a corrupção. Para tão nobre fim, tudo era válido e permitido, até mesmo um certo atropelo da ordem jurídica e legal.

A delegada Marena conhecia o roteiro de cor. Assim, quando lhe caiu à mesa um informe de origem na Corregedoria da UFSC, denunciando um episódio de corrupção, viu uma oportunidade de mostrar serviço.

Com pequenas gambiarras dava para montar um caso, perante a opinião pública, disposta a abraçar qualquer causa que pudesse significar uma ação contra a “pouca vergonha”.

O caso era, de fato, café pequeno. Faltava a dimensão épica dos episódios da Lava Jato. Uma prisão midiática de cinco ou seis indiciados, um valor inflado para o “prejuízo”, seriam acréscimos preciosos para engrossar o clamor popular. E um nome representativo. Escolheram o reitor Cancellier para protagonizar a farsa, agora sob o título de “Operação Ouvidos Moucos”.

Em setembro de 2017, mais de uma centena de agentes federais sob as luzes da tevê em rede nacional, cercaram um modesto prédio de três andares ao lado do campus, onde morava o reitor, e lhe deu ordem de ordem de prisão, conduzindo-o em algemas a sede da PF em Florianópolis.

Os atos preparatórios e finais passaram por dezenas de mãos de altas autoridades – delegado, agentes federais, Ministério Público e juíza. Nenhuma delas se perguntou se não haveria alguma exorbitância naquele aparato todo.

Ninguém conferiu se os réus eram primários, se tinham a ficha limpa – todos tinham. Ou se tinham residência fixa e local de trabalho conhecido. Todos tinham.

Não havia flagrante. Não havia cueca suja de dinheiro nem malas cheias. Não dizia respeito a notas fiscais frias ou obras superfaturadas, caixa dois.

Nenhum imprestável daqueles que sujaram as mãos na ignomínia monstruosa, se interpelou sobre a proporção entre o delito suposto e o prejuízo para o bem público..

O rugido da montanha da Operação deu à luz um rato de meio quilo.

O uivo lancinante que se ouviu foi o do reitor despencando da altura no gesto desesperado de um homem que conviveu com a pior das vergonhas – a vergonha pelo que não fez.

Nenhum dos esbirros que atuou na operação Ouvidos Moucos mereceu a mais rala reprimenda. Os autores do crime foram promovidos, estão vivos e com boa saúde.

A Delegada Marena se aposentou a pedido em maio, com abonos, direitos e vantagens da sua categoria – 50 anos de idade e 22 de serviço.

(de um artigo de N.W.)

(titoguarniere@terra.com.br)

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