Sexta-feira, 28 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 27 de novembro de 2025
Um tradutor que perdeu mais de um terço da renda mensal, uma designer que ficou sobrecarregada após implementação da IA, outro profissional que enfrenta queda de demanda. Apesar das divergências sobre o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho, muitas mudanças já aparecem no dia a dia dos trabalhadores.
Muitos profissionais relatam terem precisado fazer transição de carreira por não encontrar emprego na área. A maioria narra desvalorização dos serviços e sobrecarga na rotina de trabalho.
O debate sobre como a IA vai mudar o mercado de trabalho ganhou coro com um depoimento do CEO do Walmart, Doug McMillon à Fortune. “Está muito claro que a inteligência artificial vai mudar literalmente todos os empregos.”
À frente da companhia com mais de 2 milhões de funcionários em todo o mundo, o executivo diz não conseguir pensar em uma única função que não será alterada pela tecnologia. Hoje, a gigante do varejo automatiza tarefas e cria novas posições, como a de “construtor de agentes”, responsável por desenvolver ferramentas de IA para uso interno.
Entre otimistas e pessimistas, uma coisa é certa: não há mais volta e quem não estiver atualizado vai ter mais dificuldade para se reposicionar no mercado. “Toda tecnologia quando chega deixa alguém para trás”, afirma George Darmiton, professor titular em inteligência artificial do Centro de Informática na Universidade Federal de Pernambuco.
Brasil vulnerável
Os professores George Darmiton e André de Carvalho, diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, concordam que o Brasil está vulnerável em relação ao avanço da tecnologia e que ainda falta o básico de letramento digital nas escolas e universidades. Somado a isso, a ausência de mão de obra qualificada em IA e a não competividade do Brasil com empresas de IA estrangeiras piora o cenário.
“Nós usamos tecnologia de fora como se fosse uma commodity”, ressalta Carvalho, que também critica a falta de ensino de pensamento computacional.
A baixa produtividade também confirma o atraso. Enquanto países investem em IA para auxiliar no aumento de produtividade, o País engatinha. Segundo dados da Conferece Board sobre produtividade, o Brasil ficou no 78º lugar em 2024 entre 131 nações avaliadas, atrás de vizinhos da América do Sul, como Uruguai, Argentina e Chile.
Não há consenso sobre em quanto tempo a IA substituirá funções. Para o professor André Ponce de Carvalho, a estimativa é de que a transformação seja mais rápida que a popularização da computação, por exemplo, em que as pessoas tiveram que retreinar o uso do computador em um ritmo mais lento.
Para Carvalho, se os investimentos aumentarem os profissionais terão mais chance de se reposicionar. Caso contrário, a tendência é ampliar a desigualdade e aumentar o gargalo na educação.
Jornada reduzida
No médio e longo prazo, Carvalho acredita que a reorganização do trabalho — se bem feita — também vai influenciar a carga horária. “Talvez no futuro tenhamos jornadas mais curtas. Isso pode reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida”, projeta.
Elisa Jardim, da Robert Half, opina que hoje o cenário do mercado de trabalho reage de uma maneira “otimista” e enxerga a IA como um “complemento à atividade humana”. Porém, o principal responsável por treinamentos e atualização não é a empresa, é o próprio profissional, diz. “Ignorar o movimento do mercado não é mais uma opção”.
Profissões afetadas
Darmiton divide o impacto da IA em quatro categorias: baixo, moderado, alto e profissões que ainda não existem. Os casos mais críticos envolvem tarefas repetitivas, operacionais e processamento de grandes volumes de dados, como atendimento ao cliente e linhas de montagem.
No impacto moderado, há possibilidade de aumento de produtividade se o profissional se atualizar. Para Elisa Jardim, gerente da divisão de tecnologia na Robert Half, isso não significa entender a fundo o funcionamento da IA. Na verdade, a ideia é aprender a aplicá-la no dia a dia conforme a natureza do trabalho, seja para resumir uma reunião ou automatizar tarefas mecânicas que não exigem pensamento crítico.
Áreas como direito, comunicação e produção de conteúdo estão no limiar em que depende da requalificação do profissional para ter potencial de risco ou oportunidade. “O profissional que não conseguir trabalhar em conjunto com essas ferramentas vai perder espaço. Porque essas ferramentas podem auxiliar, por exemplo, na curadoria de texto para minimizar erros”, explica Jardim.
Já as profissões que demandam criatividade, estratégia, habilidades sociais, comportamentais e emocionais tendem a ter baixo impacto. Psicólogo, cabelereiro, assistente social, encanador, jardineiro, professor estão entre os perfis com menor risco de substituição. As informações são de O Estado de S. Paulo.