Segunda-feira, 20 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 20 de outubro de 2025
O Ministério da Fazenda, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil ainda aguardam um plano consistente de recuperação dos Correios antes de avançar nas negociações para a concessão de um empréstimo de R$ 20 bilhões, destinado a tirar a estatal da crise. A operação de socorro é vista com cautela, já que o plano apresentado pela empresa é considerado genérico e incipiente, sem garantias de que os recursos serão suficientes para reverter a situação financeira da companhia.
Os Correios anunciaram a intenção de obter um empréstimo de R$ 20 bilhões, com garantia do Tesouro Nacional, para arcar com obrigações de curto prazo e promover a reestruturação da estatal. Banco do Brasil e Caixa analisam a concessão do crédito, que também poderia envolver bancos privados, uma vez que a operação contaria com o aval do Tesouro — o que significa que, em caso de inadimplência, a União arcaria com a dívida.
No Ministério da Fazenda, técnicos defendem que o aval ao empréstimo deve ser entendido como um “risco de cauda”, ou seja, um instrumento a ser acionado apenas em situações extremas — como recessão abrupta, pandemias ou crises financeiras —, eventos imprevistos e alheios à gestão da empresa, mas que impactem toda a economia.
Dessa forma, os Correios precisam apresentar um plano capaz de demonstrar viabilidade de recuperação por meios próprios. Até o momento, porém, o pedido formal de aval ao Tesouro ainda não foi protocolado.
Procurados oficialmente, o Ministério da Fazenda e os bancos públicos não se manifestaram. Os Correios também não comentaram o assunto.
O novo presidente da estatal, Emmanoel Rondon, ex-executivo do Banco do Brasil, é elogiado pelo perfil técnico, mas não possui experiência em processos de reestruturação dessa magnitude.
Em entrevista coletiva nesta semana, Rondon destacou que está há pouco mais de 20 dias no cargo e ainda mapeia as dificuldades da companhia. Ele afirmou que, mesmo com a obtenção dos R$ 20 bilhões, os Correios não devem voltar a registrar lucro antes de 2027 — previsão considerada otimista diante do prejuízo de R$ 4,3 bilhões acumulado no primeiro semestre deste ano.
Até o momento, não há um plano estruturado de recuperação, e nenhum dos ministérios envolvidos — Comunicações, Gestão e Fazenda — desenvolve um projeto conjunto nesse sentido.
Proposta de reestruturação
A diretoria dos Correios apresentou nesta semana as linhas gerais de uma proposta inicial, dividida em três frentes: cortes de despesas operacionais e administrativas, diversificação de receitas e recuperação da liquidez da companhia.
Entre as medidas de contenção de gastos, estão previstas a realização de um programa de demissões voluntárias (PDV) mais amplo, um plano de desinvestimento de ativos — com a venda de imóveis ociosos — e a renegociação de contratos com fornecedores.
No campo das receitas, a empresa afirma estar retomando contatos com grandes clientes e estudando modelos internacionais de serviços que possam ser integrados à sua rede logística, especialmente na área de serviços financeiros.
Os bancos que analisam o balanço da estatal nos últimos meses apontam três problemas prioritários: o crescimento do passivo trabalhista, o alto custo da folha de pagamento e a necessidade de um levantamento detalhado dos ativos imobiliários que possam ser vendidos ou usados em operações financeiras.
Segundo os Correios, o plano de reestruturação depende da injeção prévia de capital de R$ 20 bilhões para reforçar o caixa, regularizar pendências com fornecedores e recuperar a capacidade operacional.
“O modelo proposto é o de um consórcio de bancos, no qual as instituições financeiras atuam de forma conjunta para ofertar o capital buscado, em condições compatíveis com o mercado de crédito atual”, informou a empresa em nota.
Os bancos públicos, entretanto, avaliam que o socorro só deve ocorrer quando houver uma estratégia robusta que demonstre a capacidade de pagamento da estatal — algo que, segundo estimativas internas, não deve acontecer antes de meados do próximo ano.