Segunda-feira, 25 de Agosto de 2025

Home em foco Outrora poderoso, PSDB some da política, sem identidade e lideranças

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O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, disse que o Brasil mudou. A sentença, proferida em discurso no início da semana, lhe serviu como justificativa para trocar o PSDB, onde permaneceu por duas décadas, pelo PP, agora numa federação com o União Brasil. Riedel era o último tucano na liderança de um estado. Desde 2022, o PSDB perdeu, um a um, seus governadores eleitos: Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, de Pernambuco, já haviam migrado para o PSD.

É um quadro bem representativo da perda de relevância política do partido. Em quase quatro décadas de existência, a legenda viveu seu auge na presidência do tucano Fernando Henrique Cardoso e entrou em decadência, depois da derrota de Aécio Neves na disputa contra Dilma Rousseff (PT), em 2014. Uma série de fatores contribuiu para tanto: a ausência de identidade marcante, a falta de novos quadros, a Lava Jato, além das disputas internas e da ascensão do bolsonarismo como força antipetista.

“Quando apareceu um líder que falava com a alma profunda do eleitorado do PSDB, o voto foi para Bolsonaro”, afirma Aloysio Nunes, que compôs o ministério do governo FHC e exerceu três mandatos como deputado federal e um como senador até pedir, no ano passado, para ser desfiliado da sigla.

Ele afirma que os partidos de direita estão se “coagulando” e têm o desafio de escapar do bolsonarismo. “Existe uma facilitação, estamos vendo o final da vida política de Jair Bolsonaro (PL), que entrou como leão no Supremo Tribunal Federal (STF), mas saiu como cão sarnento e desdentado”, diz, lembrando o depoimento do ex-presidente, em junho, sobre a trama golpista.

Fatores

No passado recente, Aloysio credita à Operação Lava Jato o aumento da impopularidade do PSDB. Ele próprio foi investigado pela Polícia Federal, suspeito de se envolver no esquema de corrupção da Odebrecht. Assim como aconteceu com outros então tucanos, como José Serra e o agora vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o processo foi arquivado. À época, o PSDB usava o discurso anticorrupção para fazer frente ao PT e acabou ficando sem retórica quando seus integrantes figuraram em delações.

Professor de ciências políticas da FGV, Marco Antonio Teixeira conta que o bolsonarismo já se camuflava no tucanato, em especial por causa do discurso anticorrupção, uma prévia do sentimento antissistema. A transmissão do capital político do PSDB para Bolsonaro, afirma Teixeira, foi pavimentada por organizações da sociedade civil, como o MBL (Movimento Brasil Livre), que atuou pelo impeachment de Dilma, em 2016.

“O bolsonarismo corroeu a base política tucana”, afirma Teixeira, acrescentando que o PSDB não foi capaz de produzir novas lideranças e sucumbiu a disputas internas. Em 2018, por exemplo, João Doria conseguiu se eleger governador de São Paulo, apoiando Bolsonaro à presidência, numa estratégia conhecida como “BolsoDoria”.

“Doria foi o coveiro do PSDB”, diz Teixeira. “Ele criou uma grande confusão e saiu da vida pública. Não era um projeto do PSDB, era um projeto do Doria, que puxou o tapete do agora vice-presidente.”

Efeito Aécio

O Partido da Social Democracia Brasileira foi fundado em 1988, em um contexto de redemocratização. Seus fundadores, entre eles o primeiro presidente da sigla, Franco Montoro, eram dissidentes do PMDB, que abrigava políticos mais conservadores.

Em 1994, o tucano Fernando Henrique Cardoso venceu as eleições presidenciais após notabilizar-se por implementar o Plano Real como ministro da Fazenda de Itamar Franco.

Professor da FespSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Henrique Curi identifica um momento determinante para o ocaso do partido.

Em 2014, o PSDB entrou com um pedido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para verificar a lisura da eleição presidencial. Aécio perdera o pleito para Dilma por uma margem apertada —51% a 48%. “Contestar as urnas significou a abertura do partido à antipolítica e não mais se diferenciou da política baseada em radicalizações”, diz Curi.

Cadeirada

Nas eleições passadas, o partido elegeu apenas 13 deputados federais e três senadores. Em 1998, conseguiu eleger 99 deputados federais e 16 senadores. A decadência do PSDB foi consumada com o episódio da cadeirada de José Luiz Datena, candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, em Pablo Marçal (PRTB), seu adversário, em um debate nas eleições de 2024.

Em junho deste ano, a convenção nacional do PSDB aprovou a fusão do partido com o Podemos. Dias depois, porém, as siglas desistiram do acordo por divergências sobre quem assumiria a presidência.

“O episódio da cadeirada mostrou como a sigla não conseguia mais controlar os valores de sua fundação”, diz Curi. “A fusão só poderia funcionar se não parecesse um ajuntamento cartorial.” As informações são da Folha de S. Paulo

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