Domingo, 05 de Outubro de 2025

Home Economia Para analistas, isenção do Imposto de Renda impulsiona o PIB do Brasil, mas pressiona inflação

Compartilhe esta notícia:

O projeto de isenção do Imposto de Renda (IR), aprovado por unanimidade pela Câmara dos Deputados na noite de quarta-feira (1º), tende a impulsionar a atividade econômica em 2026 e ter efeito positivo no Produto Interno Bruto (PIB). Em contrapartida, a mudança deve pressionar a inflação de serviços no início do próximo ano e impor um desafio adicional à política de juros do Banco Central (BC), segundo analistas.

“A isenção do IR não é uma reforma completa da tabela, é apenas um ajuste marginal, não tem uma reforma estrutural na renda. É uma medida eleitoreira”, avalia o economista-chefe da ARX, Gabriel Leal de Barros. “A proposta tem efeito multiplicador para quem recebe o benefício, porque isso vira consumo à frente.”

O economista observa que a melhora no cenário da inflação está atrelada ao movimento global de fraqueza do dólar e à diferença de juros, beneficiando os preços de bens industriais e alimentos. A ARX prevê o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,83% neste ano e em 4,7% no próximo.

Adicionalmente, Barros avalia que o projeto aprovado na Câmara pode trazer constrangimento para o BC iniciar o ciclo de afrouxamento monetário em 2026, devido ao estímulo da atividade e consequente pressão sobre a inflação de serviços. Ele prevê redução total de três pontos porcentuais na Selic (taxa básica anual da economia), com previsão de 12% no fim de 2026.

“Há uma grande chance de o BC cortar o juro em janeiro, com possibilidade de começar com um corte mais lento”, afirma. “Parece que o Gabriel Galípolo (presidente do BC) está emulando o Ilan (Goldfajn, ex-presidente da autarquia) e segurando o corte de juros, que, quando começou, foi devagar. O Galípolo entende a desconfiança do mercado em relação à credibilidade do BC hoje.”

Em relação ao fiscal, Barros destaca que, a despeito de ser neutra no papel, a isenção do IR deve trazer um impacto negativo para as contas públicas.

Meta fiscal

O economista prevê déficit primário (saldo negativo entre as despesas e as receitas do governo, fora os juros), considerando itens que ficam fora do cálculo da meta fiscal, de -0,6% do PIB em 2025 e -0,9% do PIB em 2026. Ele ressalva que, mesmo com o cumprimento da meta, isso não traz credibilidade para as contas públicas, visto que diversos gastos são desconsiderados no cálculo.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, também avalia que a isenção poderá impor pressão adicional à política de juros do BC, ao agir como mais um elemento de impulso para a atividade econômica em 2026.

“Junto do crédito consignado, a isenção do IR será importante para a expansão da economia no ano que vem”, destaca Vale, que projeta crescimento em torno de 1,5% para a atividade em 2026. “Porém, há a questão do BC, porque o juro (atualmente em 15%) pode ficar mais alto por ainda mais tempo, e coloca mais pressão para 2027.”

O economista considerou como “positivo” o efeito fiscal neutro previsto pelo projeto, que manteve as compensações direcionadas aos contribuintes de alta renda, que ganham a partir de R$ 50 mil mensais. Por outro lado, Vale alerta que a isenção do IR pode demandar um esforço maior para um ajuste fiscal em 2027. “Esse ajuste vai demandar um esforço grande de arrecadação, de despesas e de mexer com gastos tributários. Por mais que tenha sido neutro agora, vai ser pior lá na frente.”

PIB

Para Leal de Barros, da ARX, a isenção do IR ainda deve trazer viés de alta para o PIB em 2026, com impacto estimado de 0,3 ponto porcentual para a atividade. Contudo, ele ainda menciona que impulsos fiscais via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) também estimulam a economia de maneira indireta. A ARX prevê crescimento de 2% para 2026.

Rafael Cardoso, economista-chefe do banco Daycoval, também calcula que a reforma do IR deve gerar um impacto direto na renda em torno de R$ 31 bilhões em 2026, com efeito positivo no PIB de 0,3 ponto porcentual. “Como o projeto é centrado em classes de renda mais baixa, em que o consumo das famílias tende a ser maior, o impacto no PIB tende a ser positivo”, diz Cardoso. Segundo ele, contudo, a projeção de crescimento de 1,9% do PIB em 2026 é mantida, pois a medida já era considerada no cenário-base do banco.

O efeito inflacionário tende a ser pequeno, de 0,1 ponto porcentual de inflação 12 meses à frente, acrescenta. A projeção do Daycoval é de IPCA de 4% em 2026.

O economista concorda que a medida pode dificultar o trabalho do BC em ancorar expectativas, considerando que o início do ano com maior renda disponível das famílias “pode gerar solução da atividade econômica”. (Com informações de O Estado de S. Paulo)

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Economia

Imposto de Renda: rendimentos superiores a R$ 50 mil por mês passam a ser taxados
Dezoito deputados não votaram projeto que amplia isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês; proposta foi aprovada por todos os 493 parlamentares que estavam presentes
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play
Ocultar
Fechar
Clique no botão acima para ouvir ao vivo
Volume

No Ar: Programa Pampa News