Sexta-feira, 05 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de setembro de 2025
A casa de Jair Bolsonaro no bairro do Jardim Botânico, em Brasília, já foi palco de lives semanais, encontros com pastores e articulações políticas. Recentemente, porém, o portão preto da residência passou a ser a entrada do cárcere do ex-presidente, que já está há um mês em prisão domiciliar por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A medida não apenas restringiu a sua mobilidade, como também redefiniu a rotina do condomínio e transformou a residência em um centro de peregrinação de aliados.
Desde a primeira semana, o movimento foi intenso. Deputados e senadores do PL desfilaram pelo endereço, em demonstrações públicas de apoio. Nas últimas quatro semanas, pelo menos 14 políticos foram autorizados a visitar Bolsonaro. Entre eles, três tiveram papel decisivo: o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A Lira, Bolsonaro pediu empenho pessoal na articulação da anistia, que poderia incluí-lo, e enfatizou que a pauta não poderia ser esvaziada no Congresso. O ex-presidente da Câmara, segundo aliados, recebeu o pedido com cautela: reconheceu a urgência política, mas alertou que precisaria medir forças com o STF.
Valdemar, por sua vez, tratou diretamente da estratégia de longo prazo do PL, incluindo 2026. Bolsonaro pediu que o partido estruturasse chapas fortes, principalmente no Sudeste, para não perder protagonismo, e reforçou a necessidade de que a legenda se mantivesse como núcleo da direita. Já Tarcísio ganhou carta branca para nacionalizar temas e ocupar espaços antes reservados ao ex-presidente, transformando-se em porta-voz da direita e tomando para si a articulação da anistia.
Nos bastidores, aliados descrevem Bolsonaro como um líder dividido entre a fragilidade física e determinação política. Ao se encontrar com Valdemar, insistiu que seu filho, Carlos Bolsonaro, seja candidato ao Senado em 2026 por Santa Catarina. Sobre a anistia, conversou com Lira de forma direta: “É preciso ter coragem política”, teria dito. Mas o próprio deputado alertou que qualquer movimento precipitado poderia gerar resistência no Congresso e no Supremo.
Internamente, a casa funciona como um QG político com rotina própria. Flávio Bolsonaro se tornou ponte institucional entre o pai e líderes do Congresso, transmitindo recados. Carlos Bolsonaro e Jair Renan transitaram menos na residência, mas vieram para Brasília nesta semana para acompanhar o julgamento da trama golpista. Michelle organiza a vida doméstica, do arroz com feijão que Bolsonaro não abre mão à logística de visitas, determinando a que horas os aliados podem ir até à casa, após serem autorizados pelo STF.
O cotidiano de Bolsonaro alterna momentos de lazer, rotina familiar e discussões políticas: assiste a jogos de futebol, reúne-se com advogados, recebe aliados e trata de estratégias eleitorais. A mesa da sala está sempre ocupada por papéis e frascos de remédios. O ex-presidente enfrenta crises de soluço, refluxo e dores no estômago, diagnosticadas em exames recentes como irritação no esôfago. Esses episódios de náusea e fragilidade, que decorrem de um quadro gástrico que apresenta desde a facada de 2018, o impediram de participar da primeira parte do julgamento no STF.
Aliados relatam que, mesmo diante de limitações físicas, Bolsonaro mantém ritmo intenso de articulação. O QG doméstico mistura política e intimidade. Michelle prepara a comida caseira enquanto Bolsonaro debate alianças. Nas reuniões com aliados, o ex-presidente alterna momentos de reclamação sobre dores e soluços com decisões estratégicas, como definição de candidatos, palanques regionais e movimentos do partido. “Ele não está fora do jogo, só está jogando de dentro de casa”, diz um deputado próximo.
Ao completar um mês em prisão domiciliar, Bolsonaro tenta conciliar o papel de chefe de família com o de líder político em xeque.
O julgamento continua na próxima semana, e o resultado pode definir se a casa continuará sendo palco das articulações de Bolsonaro. (Com informações do jornal O Globo)