Quinta-feira, 17 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 16 de julho de 2025
Revolução na economia brasileira, com vários países buscando mais informações sobre a ferramenta, o Pix, sistema de transferências em tempo real desenvolvido pelo Banco Central (BC), está sendo questionado em processo aberto pelo governo dos Estados Unidos.
A informação foi divulgada em investigação anunciada pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) contra o Brasil a pedido do presidente americano, Donald Trump.
No documento, o governo norte-americano não cita especificamente o nome do sistema Pix, mas fala em “serviços de comércio digital e pagamento eletrônico”, inclusive aqueles do governo. O Pix é o único sistema do governo para esse fim.
“O Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, diz o USTR.
Em outro trecho, fala em indícios de que o Brasil “se envolve em uma variedade de atos, políticas e práticas que podem prejudicar a competitividade das empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico”.
Em junho de 2020, antes mesmo do início do Pix no Brasil, o BC e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspenderam a função de pagamentos e transferências que funcionava por meio do WhatsApp no Brasil.
Naquele momento, o BC determinou que as bandeiras de pagamento Visa e Mastercard, que viabilizavam as operações financeiras, paralisassem a função para que o órgão pudesse avaliar riscos e garantir funcionamento adequado do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Já o Cade via potenciais riscos para a concorrência.
Em 2023, quando o Pix já estava em funcionamento, o BC autorizou o WhatsApp a disponibilizar o recurso que permite fazer pagamentos com cartões de crédito, débito e pré-pago.
Em dezembro do ano passado, entretanto, o WhatsApp — empresa norte-americana vinculada à Meta — descontinuou no Brasil a função de pagamento entre pessoas com cartão de débito no aplicativo.
Em nota enviada ao portal g1 em novembro do ano passado, a empresa explicou que a decisão de suspender a função com cartão de débito no país visa priorizar as transações via Pix.
“Estamos avisando todos os usuários sobre o fim desta função a partir de dezembro”, informou.
Concorrência
Ralf Germer, CEO da PagBrasil, uma plataforma de pagamentos online que atua há 15 anos no Brasil, afirmou que é difícil saber o que se passa na cabeça de Donald Trump ao alegar “práticas desleais” do Pix.
Ele observou, entretanto, que houve uma alegação parecida na Indonésia com argumento principal de concorrência da ferramenta local de pagamentos com os sistemas dos Estados Unidos (Visa, Mastercard e Amex, por exemplo).
“Para as bandeiras de cartão de crédito, o Pix é uma ameaça no Brasil. É claro, óbvio. E à medida que o Pix ganha novas funcionalidades, como agora o Pix automático, e talvez no futuro o Pix que vai permitir fazer pagamentos parcelados, vai ser uma grande ameaça ao futuro do cartão de crédito”, disse Ralf Germer, CEO da PagBrasil.
Ele lembrou que o próprio Federal Reserve, o BC norte-americano, tem um sistema parecido, o FedNow, que permite a transferência de recursos entre instituições financeiras. Nesse caso, porém, o custo da transação, mesmo sendo pequeno, pode ser cobrado dos participantes.
Recordes
Lançado em novembro de 2020, no auge da pandemia da covid, o Pix bateu recorde de volume transferido em 2024 ao somar R$ 26,46 trilhões.
O crescimento dos valores transferidos via Pix foi de 54,6% na comparação com 2023, quando as movimentações totalizaram R$ 17,12 trilhões (valor revisado).
O número de transações também bateu recorde no ano passado. Foram 63,5 bilhões de operações efetuadas contra 41,68 bilhões em 2023, de acordo com números oficiais do Banco Central.
Em novembro do ano passado, quando o Pix fez aniversário de quatro anos, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, comentou que o país estava próximo de ter toda a população adulta utilizando a ferramenta.
“Uma das coisas que mais impressionam é o uso do Pix por pequenos comerciantes, o microempreendedor individual, pelo sujeito que antes tinha dificuldade em oferecer um meio de pagamento digital aos seus clientes. Isso permitiu novos modelos de negócios, a pessoa que passa a vender produto na rede social, que precisa de um pagamento instantâneo. E também incluiu muita gente que mora em regiões remotas, que não tem agência bancária”, avaliou o diretor do BC, Renato Gomes, na ocasião.
No Ar: Pampa Na Madrugada