Terça-feira, 16 de Abril de 2024

Home Ciência Por que a incerteza confunde tanto nossos cérebros

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Imagine que você está esperando a resposta de um novo empregador em potencial sobre uma oferta incrível de trabalho. Foi difícil interpretar a opinião do entrevistador – simplesmente não há como adivinhar se você foi escolhido.

Com o passar dos dias, você só gostaria de saber o resultado do processo seletivo – mesmo que a notícia não seja boa –, em vez de ter que suportar mais um minuto de espera agonizante?

E quando se trata de um encontro romântico? Você preferia que alguém te dissesse, de cara, que não quer mais te ver de novo, em vez de ficar esperando por uma nova notificação de mensagem no celular? Ou arriscaria sua dignidade pedindo sinais de compromisso em um momento inoportuno?

Em ambos os cenários – e em muitos outros – um sentimento de incerteza pode trazer um desconforto agudo.

Para algumas pessoas, uma incapacidade geral de processar situações ambíguas pode até alimentar transtornos de ansiedade crônicos.

“A incerteza pode intensificar o quão ameaçadora uma situação parece”, diz Ema Tanovic, psicóloga do Boston Consulting Group na Filadélfia (EUA), que também pesquisou as consequências da incerteza na Universidade de Yale.

Os cientistas, incluindo Tanovic, estão fazendo agora grandes avanços na tentativa de explicar por que a incerteza pode ser tão dolorosa e estabelecer as consequências em cadeia para nossa tomada de decisão e comportamento.

Ao compreender esses mecanismos, podemos aprender a aliviar esses sentimentos – e talvez até mesmo prosperar diante do medo do desconhecido.

Desconhecidos conhecidos

Nosso conhecimento dos efeitos da incerteza no cérebro e no corpo vem de uma série de estudos ligeiramente sádicos.

Em um experimento típico, os participantes são ligados a eletrodos, capazes de aplicar um choque elétrico inofensivo, mas ligeiramente doloroso, na pele, enquanto os pesquisadores medem as respostas fisiológicas que tendem a se correlacionar com o estresse – como o suor da pele ou mudanças no tamanho da pupila.

Em estudo após estudo, os pesquisadores descobriram que qualquer elemento de imprevisibilidade aumenta significativamente o desconforto das pessoas, apesar de não haver nenhuma diferença objetiva na intensidade do choque.

Os participantes apresentam um estresse maior se houver 50% de chance de levar um choque, por exemplo, em comparação com situações em que há 100% de certeza de que o choque será dado.

“Se pensarmos em termos puramente racionais, isso não faz sentido: uma chance de 50% de levar um choque deveria provocar metade da ansiedade de uma chance de 100% se tudo com o que nos importamos é a ameaça em si”, diz Tanovic.

“Mas não é assim que nossas mentes funcionam.”

E não é apenas a incerteza de uma ameaça que causa desconforto: também relutamos em nos colocar em situações potencialmente lucrativas se elas envolverem um elemento de imprevisibilidade.

Tanovic recentemente pediu aos participantes para jogarem um jogo chamado “Uncertain Waiting Tasks” (“Tarefas de Espera Incertas”, em tradução literal).

Não é necessário muita habilidade – ao longo de várias provas, os participantes têm a chance de ganhar algum dinheiro.

O resultado de cada etapa é puramente aleatório, mas os participantes têm a opção de saber o resultado imediatamente, em vez de esperar alguns segundos até descobrir.

Mas o conhecimento imediato vem acompanhado por uma penalidade: o prêmio será menor. Apesar de ser a opção mais racional, apenas 37% dos participantes optaram por aguardar em cada prova. O restante estava disposto a sofrer uma perda financeira para evitar a ansiedade da espera em um estado de incerteza.

Tanovic diz que muitas situações cotidianas provocam o mesmo tipo de reação.

“As pessoas podem se esforçar muito para reduzir a incerteza e a ansiedade que vem com ela, como ligar repetidamente para um ente querido para ter certeza de que está bem, enviar mensagens de texto para um crush incessantemente quando não respondem, atualizar compulsivamente a caixa de entrada quando está esperando retorno sobre uma entrevista”, diz ela.

“Às vezes funciona, e o comportamento resolve a incerteza, mas essas ações geralmente podem custar caro em termos de tempo, esforço e efeito nos relacionamentos.”

Os neurocientistas começaram a monitorar a atividade cerebral por trás desse tipo de tomada de decisão. As pesquisas ainda estão em andamento, mas os resultados até agora oferecem algumas pistas da resposta neural à incerteza.

Parece haver uma atividade maior na amígdala, por exemplo, o que pode refletir um estado de “hipervigilância”, de modo que estamos mais alertas para riscos potenciais.

A incerteza também parece acionar a ínsula anterior, que está envolvida na ponderação das consequências de um evento particular e que pode ampliar as estimativas do cérebro do dano potencial.

Nossas reações à incerteza podem ter feito sentido na evolução.

O cérebro está constantemente tentando prever o que acontecerá a seguir, permitindo que prepare o corpo e a mente da maneira mais eficaz possível.

Em situações incertas, esse planejamento é muito mais difícil – e se você estiver enfrentando um predador ou inimigo humano, a resposta errada pode ser mortal.

Como resultado, pode valer a pena pecar pelo excesso de cautela – seja evitando a incerteza por completo ou colocando o cérebro e o corpo em um estado de alerta pronto para responder a uma situação de mudança.

“Tratar as incógnitas como ameaças potenciais teria sido adaptativo, desde que a ansiedade associada não comprometesse [atividades essenciais], como buscar comida e abrigo, ou selecionar companheiros”, explica Nicholas Carleton, professor de psicologia da Universidade de Regina, no Canadá.

Na opinião dele, o “desconhecido” representa um dos “medos fundamentais” da humanidade – talvez até mais importante para nosso comportamento do que nosso medo da morte.

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